quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Vamos até Porto Seguro?


Quando alguém daqui da Vila diz que vai a Porto, a gente olha para a pessoa com comiseração. Apesar de ser uma viagem pequena -- apenas uma travessia de balsa e 25 quilômetros em direção ao sul -- é propensa a tomar o dia todo, e cansa como o quê. É preciso juntar todas aquelas tarefas de banco, consertos de eletrodomésticos, compras de mercado, embalagens para o correio, produtos de farmácia e informática, artigos de papelaria, consultas médicas e roupas pra lavanderia, anotar cuidadosamente num rol organizado e tentar resolver tudo no mesmo dia, de preferência saindo bem cedo, nas primeiras travessias da balsa, pra não voltar de noite aberta. Como já expliquei outras vezes, Santo André não conta com muitos serviços, salvam-se umas duas ou três lojinhas, um mercadinho e meio, uma manicure, um salão de bilhar e uma pequena banca de jogo de bicho – o resto é tudo importado.
Emendo que há compensações como bons restaurantes italianos e outros mais de comida fina, uma ótima pizzaria, váaaarios bares e se não padarias, pelo menos um número expressivo de padeiros. Não fazemos feio na área de artistas temos músicos, artesãos, dançarinos e há professores que moram aqui, de capoeira, de massagem, de kite e windsurf, de xamanismo, de ecologia.
Agora se você precisar fazer uma revisão no seu carro ou encontrar uma oficina eletrônica mais esperta, aí, meu caro, a viagem até Eunápolis é inevitável, são setenta kms além de Porto Seguro para chegar numa cidade feinha e confusa, é um caso típico de penitência e contrição.
Ontem passei por um dia desses, a odisséia começou logo na fila da balsa, havia uma fieira de carros aguardando a hora de embarcar, era a chata pequena, quase não conseguimos colocar o carro em cima. Saímos de casa em dois e chegamos lá em cinco, pois que a maioria dos moradores não possui automóvel o que torna o uso da carona amplamente disseminado – nós aqui somos ecológicos no gasto de combustível. Todos são obrigados a sair dos veículos, é uma questão de segurança na hipótese da balsa afundar. Acho que nunca houve algo assim tão drástico, só de abalroamento com a outra lancha que vinha de lá pra cá, ou seja, de Cabrália para Santo André. Ah, também já houve um ou dois episódios de queda inmprevista para dentro do rio, porque o motorista chegou atrasado e na ânsia de atravessar jogou o veículo na rampa de embarque e deu com o carro n’água.
Bem, mas como eu dizia, tocamos pra Porto: uma das minhas necessidades era coisa de salão de beleza enquanto Cláudio se dirigia para a loja da Vivo de onde saiu quase morto. Não marco hora porque não consigo cumprir horário naquela cidade, então me sentei na primeira cadeira que achei disponível em frente a um espelho. A moça por trás de mim falou-me que fizera cursos de estética na Suíça, nossos olhos se encontravam através do espelho, ela até me mostrou as apostilas escritas em francês e eu nem precisei virar o pescoço para descobrir que ela estivera em Lausanne. Parei de prestar atenção porque a porta que dá para a Navegantes deslizou para o lado deixando passar um homem de calça clara, rosto trigueiro e lóbulos de orelhas cheios de argolinhas. Um menino que estava refestelado no sofá de couro sintético branco mexeu sua inércia e pediu pai me leva pra casa ao que a mãe que passava a tinta no meu cabelo ajuntou e traz comida pra mim, só que eles não contavam com a irritação que isto causaria no português (o inconfundível sotaque) e uma discussão áspera se seguiu entre o marido e a mulher que cada vez mais exasperada puxava meus cabelos com força para cima e para o lado e o resultado foi uma dor de cabeça pra mim e outra pra ela.
O próximo passo era caminhar em direção aquela Avenida que faz fronteira com o mar até avistar a agência do Banco do Brasil onde eu pretendia comprar moeda estrangeira para a viagem de maio. Cheguei tarde, passava das duas, mas cheogou a moça que usa aquela bata amarelo-ovo com a pergunta “Posso ajudar?” e ela foi realmente solícita, me deu a informação fulminante está tudo proibido não vendemos nem compramos, a senhora deve se dirigir a uma casa de câmbio, tem uma naquele shopping e me apontou a direção. No caminho para os dólares do segundo andar do shopping avenida entrei na rua da banca de revistas para pegar o jornal de hoje que ainda não chegara nem o de ontem que estava esgotado e finalmente pisei na calçada da farmácia distraída, não comprei os remédios por esquecimento.
Vou ter que voltar à Porto.

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