A próxima semana será cinematográfica em Santo André da Bahia -- além da exibição de filmes no Cine Cajueiro, na quarta-feira, e na Casapraia na sexta, teremos uma atraçao extra - a chegada de Viviane e Griselda, as duas argentinas criadoras do projeto CINE a la Intemperie que estão percorrendo a América Latina levando o cinema a bordo de uma camionete. Para explicar o trabalho das moças, trouxe uma matéria que saiu no Jornal "O Globo", escrita pela jornalista Júlia Motta.
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"A chegada a Río Grande, uma comunidade pequena no Norte do Chile, foi cansativa, e, para piorar, a governante local mostrou-se resistente. Mas as argentinas Viviana García e Griselda Moreno acabaram conseguindo permissão para exibir filmes do Cine a la Intemperie por lá. Muitos moradores ajudaram na montagem da sala de cinema itinerante, e foi preciso esperar 45 minutos para acender as turbinas de água e garantir eletricidade para a projeção. Esta foi apenas uma das aventuras que as duas enfrentam há dois anos, desde que iniciaram, em junho de 2008, em Córdoba, o projeto de levar o cinema independente latino-americano a povoados distantes. O Cine a la Intemperie acaba de chegar ao Brasil.
Com um projetor digital, um computador, um telão e mais de 300 curtas, animações e documentários de vários países hermanos na mala, Viviana e Griselda percorrem de carro diversos lugarejos da América Latina. Já visitaram 16 países: Argentina, Chile, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, El Salvador, Guatemala, México, Cuba, Venezuela e, depois do Brasil, ainda passarão por Paraguai e Uruguai. As sessões rolam em praças públicas, escolas, igrejas ou clubes.
— Entendemos que ao projetar tantos filmes da América Latina na América Latina ajudamos a nos conhecer e a nos reconhecer. Nos mantém em pé saber que a História dos nossos povos necessita ser difundida e que os audiovisuais que levamos produzem uma reflexão e, dela, uma mudança positiva — diz, por e-mail, Griselda.
— Buscamos comunidades que não têm acesso à cultura audiovisual. Só precisamos que o lugar tenha eletricidade. No começo, levávamos um gerador, mas acabamos mandando de volta para Argentina, pois ocupava muito espaço na caminhonete — explica Griselda, que é de Salta, tem 35 anos, formou-se em Comunicação Social e trabalha como repórter e fotógrafa de aventuras, já tendo viajado por mais de 80 países.
Já Viviana tem 34 anos e nasceu em La Plata. É fotógrafa e produtora formada em Cinema e Televisão pela Universidad Nacional de Córdoba. Para ela, o interesse no projeto não foi só questão de aventura:— Tem uma questão política e vital no sentido de compromisso com a situação da América Latina. E, também, a ideia de difundir e registrar através do cinema e da fotografia as problemáticas que nos cercam.
Griselda vai além:— Esse projeto trata de uma causa altruísta, e o altruísmo é uma das formas mais puras de amor. Viajar é viver muitas vidas em uma, e fazer isso sob o conceito cinematográfico significa entrar nas janelas esquecidas e arrancar emoções ignoradas, escutar as vozes do silêncio e ler em centenas de rostos as histórias dos nossos povos.
Nestes dois anos de viagem, Griselda não voltou nenhuma vez para casa. Viviana esteve na Argentina em duas ocasiões, para resolver questões do próprio projeto. Elas contam que a maior dificuldade até agora foi ter que trocar de carro.
— Nossa charmosa estanciera (carro antigo argentino e logomarca do projeto) só chegou até Uyani, na Bolívia, o terceiro país que visitamos. Foi triste saber que ela não nos acompanharia mais, mas era importante ter um carro que nos atendesse melhor — diz Griselda.
Por onde passa, a dupla se hospeda onde dá: casas de famílias, quartéis de bombeiros, Defesa Civil, estacionamentos de hospital ou até acampamentos. Durante a viagem, a dupla encontrou vários projetos de cinema se desenvolvendo em diferentes países, como o El Cine Vino do Chile, o Cine Bus da Colômbia e a Cinemateca Itinerante do México. Daí, surgiu a ideia de botar na mesma mesa os vários testemunhos sobre as metodologias de trabalho e as maiores dificuldades. Assim nasceu o Primeiro Encontro de Cinemas Móveis, organizado pela dupla argentina e pela Asociación para el Fomento e Impulso Cinematográfico S.A., e que acontece em Puebla, no México, de 25 de setembro a 2 de outubro. As meninas serão responsáveis pela mostra itinerante do festival, mas a proposta é criar um cinema itinerante latino-americano permanente.
— Estamos convencidas de que o audiovisual latino-americano é portador de identidades e significados que não devem ser tratados apenas pelo valor comercial. Queremos fortalecer a diversidade cultural promovendo a exibição alternativa, fora dos circuitos que regulam a programação pelos critérios de mercado — afirma Griselda."
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