O Rede Furada sempre afortunado em contar com a preciosa colaboração de amigos. Nesta crônica, da fotógrafa e escritora Sonia Bonzi, um relato vívido de uma inusitada experiência visual: a erupção de um vulcão na Guatemala, onde ela reside atualmente.
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"Há pouco mais de dois anos, conheci o Vulcão Pacaya e por ele me apaixonei. Sua forma é magnífica e o vejo como uma chaminé da Terra, sempre a soltar fumaça. Visitá-lo, subir por suas encostas, chegar perto e tocar com um pedaço de pau a lava incandescente é programa turístico aqui na Guatemala.
A curiosidade me fez escalá-lo. Subi no lombo de um cavalo para chegar ao ponto onde se podia sentir o calor do fogo que derrete pedra. Fui até onde o cavalo me levou. Não tive ânimo para subir mais, como fizeram meus filhos. Contentei-me em sentir, ver e ouvir a Natureza em ebulição. O magma borbulhando sob meus pés. Um rio de lava descia montanha abaixo. O Vulcão de Água, que fica na cidade de Antigua, imponente, esplendoroso, enfeitava a paisagem. O percurso de volta só não foi mais doloroso por que o visual anestesiava os sentidos. Meu cavalo, cansado, punha a cabeça para baixo e ia se equilibrando nas pedras soltas e porosas formadas por outras erupções vulcânicas. Manter o corpo para trás exigia um grande esforço.
O Pacaya, desde 1998, esteve calmo, sem alterar seu cotidiano, permitindo que os turistas destemidos fossem admirá-lo.
Dia 27 de maio deste ano, não se sabe por quê, deixou a passividade, enfureceu-se e explodiu. Soltou chamas a mais de mil metros de altura, regurgitou pedras e areia. Sacudiu e fez a Terra tremer.
A população que mora nas proximidades foi pega de surpresa e teve que sair de casa às pressas. Pedras incandescentes voaram pelo ares, derrubaram casas, postes, torres, incendiaram árvores e tudo mais que acharam pelo caminho. Uma areia preta, quente, pesada, pegou carona com o vento, viajou muitos quilômetros e desceu do céu como chuva. Assustador. Nunca havia visto nada semelhante.
O bairro onde moro fica a uns 50 Km do vulcão. Ruas e calçadas pareciam ter levado uma demão de piche. As folhas e flores tombaram dos galhos. Os pássaros voavam de uma lado para o outro sem saber o que fazer para proteger os ninhos da areia com cheiro de enxofre. Os telhados mudaram de cor, deixando o povo assustado, temeroso que o peso os fizesse cair. As calhas e bueiros entupiram.
O Pacaya, desde 1998, esteve calmo, sem alterar seu cotidiano, permitindo que os turistas destemidos fossem admirá-lo.
Dia 27 de maio deste ano, não se sabe por quê, deixou a passividade, enfureceu-se e explodiu. Soltou chamas a mais de mil metros de altura, regurgitou pedras e areia. Sacudiu e fez a Terra tremer.
A população que mora nas proximidades foi pega de surpresa e teve que sair de casa às pressas. Pedras incandescentes voaram pelo ares, derrubaram casas, postes, torres, incendiaram árvores e tudo mais que acharam pelo caminho. Uma areia preta, quente, pesada, pegou carona com o vento, viajou muitos quilômetros e desceu do céu como chuva. Assustador. Nunca havia visto nada semelhante.
O bairro onde moro fica a uns 50 Km do vulcão. Ruas e calçadas pareciam ter levado uma demão de piche. As folhas e flores tombaram dos galhos. Os pássaros voavam de uma lado para o outro sem saber o que fazer para proteger os ninhos da areia com cheiro de enxofre. Os telhados mudaram de cor, deixando o povo assustado, temeroso que o peso os fizesse cair. As calhas e bueiros entupiram.
Como se a erupção do vulcão não bastasse, formou-se no Pacífico uma tormenta tropical, Agatha, que se encaminhou na direção da Guatemala.
Durante 4 dias choveu torrencialmente. Com as calhas bloqueadas pela areia, a água procurou caminho debaixo dos telhados, por aí se infiltrou, vazou pelos lustres, pelos cantos das paredes, provocou curto-circuito. Em minha casa tivemos que tirar a água do assoalho com rodos. A eletricidade se foi. O gerador, que nos forneceria luz, queimou-se. A água secou nas torneiras.
Com velas acesas, chuva forte, raios e trovões, areia negra cobrindo o verde da grama, notícias de que o pior estava por vir, senti-me como em um filme de suspense. Sem computador e sem internet a vida me pareceu medieval.
A tempestade Agatha acabou não sendo tão forte como o previsto, mas, mesmo assim, causou grandes tragédias, principalmente, nas áreas mais pobres. Casas, plantações, entes-queridos foram levados pela correnteza dos rios ou soterrados sob os deslizamentos de terra. Pontes caíram, estradas se partiram, carros desapareceram. No centro da cidade capital um prédio de três andares foi engolido pela terra sem deixar vestígios. Alergias e infecções podem aparecer quando a areia secar e virar poeira.
Solidariedade e fraternidade bateram no coração do povo. Há muitos voluntários dando o melhor de si. As escolas suspenderam as aulas por uma semana. As crianças foram chamadas a ajudar na distribuição de roupas e alimentos.
A tempestade fez com que nos esquecêssemos do Pacaya. Dele nos restam montes de areia encostados nas calçadas e a perspectiva de novas erupções dentro em breve."
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A segunda foto é do Eyjafjallajoekul, o vulcão islandês que lançou nuvens de cinzas sobre a Europa este ano. Foi enviada por Lola, de Milão.
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