sábado, 13 de novembro de 2010

afinal, o que é o "Oriente?"

Hoje a natureza não foi amigável comigo -- combinei com uma amiga sair de casa cedo (às 8) para uma caminhada na praia, só que às sete e cinqüenta começou a chover.  Ao longo do dia fiz mais duas tentativas, ambas frustradas pela chuva que teimava em cair de mansinho a cada vez que me aproximava do portão. O jeito foi retomar a leitura de um livro do Edward W. Said – um clássico de estudos culturais – intitulado  “Orientalismo -  O Oriente como invenção do Ocidente” . O principal tema é apontar que o Oriente não é apenas uma parte da geografia mundial;  a palavra, antes de mais nada é uma invenção ocidental para colocar civilizações antiqüíssimas sob o signo do exotismo e da inferioridade. Said aponta para os terríveis conflitos que são gerados por rótulos reducionistas que agrupam as pessoas sob generalizações vazias do tipo “América”, “Ocidente”, ou “Islã”.  Esses nomes inventam identidades coletivas para multidões de indivíduos que na realidade são muito diferentes entre si.

Essa questão da identidade me fez lembrar de um documentário que a BBC produziu sobre a cidade de Berlim durante a Segunda Guerra.  Um dos alemães entrevistados,  que fora doado para adoção logo após a guerra (quando ainda era um bebê),  disse que durante sua infância no orfanato viera a saber que sua mãe era uma prostituta alemã e  seu pai,  um soldado americano.  Por causa disso ele passou a vida toda construindo uma imaginária identidade americana para si próprio.  Já adulto e se preparando para partir para os Estados Unidos à procura de seu pai, teve um encontro com a mãe onde veio a saber de sua   verdadeira origem:  ela fora violada por um soldado russo durante a ocupação das forças aliadas em Berlim.  O pai dele afinal não era americano, mas russo..!  No documentário ele coloca que em 20 minutos teve que se desfazer de sua velha  identidade americana  imaginária e incorporar a nova  (e também  imaginária) identidade russa.
Achei esta história tão bonita!   Mostra como uma pessoa pode derrubar seus muros interiores...Que inveja desta flexibilidade.

4 comentários:

vera zippin disse...

realmente incrível e super crível esta história deste alemão. o bom é poder ter esta flexibilidade interna p poder continuar vivo em todos os sentidos da vida. pq é isto q conta. gostaria de ter visto esta reportagem e tb se vc me emprestar de ler este livro q vc está lendo.
c carinho

m.Jo. disse...

Livre pensar: O que soa mais falso? O reducionismo de "latinos" ou a apropriação indébita de "América"?

olimpia disse...

Vera, emprestamos o livro, sim. Quando terminar, lhe aviso, ok?
Tem outros, se quiser passar para uma visita.
bjs

olimpia disse...

Pergunta (boa) de difícil resposta...Já vi um americano justificar a apropriação pelo simples fato de que os EUA é o único país que têm a palavra "América" no nome oficial...