Conheci o Mario no campo de futebol, vinte dias pra trás. Foi-me apresentado como “padre Mario.” Olhando a indumentária urbana, acreditei. No auge do calor baiano, o velhinho tava de calça comprida bege e camisa social de listrinhas vermelhas abotoada até o pescoço. Um italiano do Piemonte, de óculos míopes e olhar vago. Soube pouco depois que Mário nunca foi padre – trabalhou e viveu no povoado uma década atrás, quando decidiu partir para o Maranhão com uma mulher. Não sei o que aconteceu entre ele e a mulher, sei somente que Mario acabou voltando para Santo André. Veio de ônibus, chegou sem lenço e sem documento. Ficou hospedado na casa de uns amigos por algum tempo, numa situação provisória porque adotar um idoso é uma questão complexa. Mario foi para a Pousada do Campeão, uns dizem que ele recebe uma pensão do governo italiano, na condição de ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, embora eu considere esta história um tanto fantasiosa.
Esta semana revi o Mario numa cena surrealista, quando eu estava tomando uma bebida gelada no Mata Encantada, numa manhã ensolarada. Ele chegou com uma mala na mão e umas sacolas na outra. Perguntava para todos onde era a casa dele. Procuramos ajudá-lo perguntando na mercearia do Paulo Maciel se alguém sabia onde ele estava hospedado. Mistério. Voltei para o Mata Encantada, ele continuava lá.
“Tem café?”
Sim. Foi servido.
“Tem maconha?”
(Meu Deus, acho que Mario ouviu as pessoas falando em alemão e pensou que estava em Amsterdã.)
Enquanto discutíamos o que fazer com o Mario, ele mesmo tomou providências: deixou a mala e as sacolas em cima da mesa do Café e saiu montado numa bicicleta que estava estacionada na entrada do Café. Foi preciso intervir, correr atrás dele e pedir que deixasse a bicicleta – era de um dos clientes...
A última notícia que tive do Mario foi que ele alugou uma casinha lá pros lados da Balsa.
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Agora vejo o Mario com frequência, normalmente sentado em algum banco de restaurante, doceria ou bar.
Sempre sozinho e melancólico.
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Agora vejo o Mario com frequência, normalmente sentado em algum banco de restaurante, doceria ou bar.
Sempre sozinho e melancólico.
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