quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

um gesto de boa vontade

Moro aqui neste vilarejo que não tem um caixa-eletrônico sequer. Banco tem, mas só de areia.  Com toda essa deficiência financeira, recebi uma carta do Banco Central do Brasil, olha só que chique, a mais poderosa autoridade monetária do país escrevendo diretamente para mim. Tava lá na minha caixa-postal em Cabrália.   Bem, a carta não era nada personalizada – por um momento pensei que seria para me dar parabéns pelo aniversário.  Afinal, trabalhei 28 anos lá e os computadores gravam a data que a gente nasce.  Que boba, não era nada disso, não chegou nem mesmo um abracinho protocolar. Na verdade, eu já sabia o teor da correspondência antes mesmo de abrir o envelope. Na parte de dentro tinha um formulário que tem a peculiaridade de já vir preenchido.  A gente só tem que confirmar que os dados estão corretos. Ou consertar. Todo ano é assim, sempre no mês do aniversário. Traz meu nome completo, meu precário endereço, o indefectível número do documento – tudo certinho.  Eu entendo que é necessário para controle do pagamento das aposentadorias, mas sempre fico nervosa quando leio aquela parte onde eles dizem que suspenderão o pagamento, caso a gente não proceda conforme as instruções.
Li cuidadosamente as instruções.  Os funcionários aposentados que moram em localidades onde há Bancos Centrais regionais, devem se apresentar fisicamente, levando identidade e CPF.  A coisa vai se subdividindo em outras categorias
1.    Os enfermos devem enviar laudos médicos;
2.    Os que estão fora do país, declarações dos consulados brasileiros;
3.    Os que moram em outras cidades, como eu, onde não há Banco Central, devem enviar uma declaração de comparecimento registrada em cartório.

O ano passado eu havia procurado o cartório de Cabrália e fui encaminhada para Porto Seguro. Por mais que tentasse explicar, ninguém naquele tabelionato conseguia atinar o que seria “uma declaração de comparecimento.” Este ano – ontem – nem perdi meu tempo, fui direto para o Fórum de Porto. Fiquei na fila do balcão de informações -- me encaminharam para o terceiro andar. Lugar errado, desci tudo de novo, era no cartório do térreo.  Descobri isso depois de muita espera. Quem mandou eu não perguntar melhor, né?  No cartório do térreo, a fila era desanimadora, mas pelo menos sabiam o que estavam fazendo.  Me dariam o documento que eu precisava, mas não numa terça-feira.  Tem dia da semana para cada tipo de documento, pelo que entendi.  Já estava indo embora, pensando que teria que voltar no dia seguinte, enfrentando o trânsito infernal que acontece entre Cabrália e Porto no verão, pensando nas filas... Quando, de repente, não mais que de repente, um senhor lá do cartório foi legal comigo. Fez a declaração naquele dia mesmo.
É isso que eu chamo de boa vontade.
Obrigada, Marilton José de Almeida Souza (vi seu nome na certidão). Eu queria confessar que quando você gentilmente arranjou uma cadeira para eu sentar perto da sua mesa aí no cartório, minha bolsa encostou – involuntariamente – num documento do computador que estava em aberto e saiu digitando um montão de VVVVVVVVVVVVVVVVV. 
Não sei nem quantas páginas de VVVVVVVVVVVV....Desculpa, eu tentei deletar, mas foi pior, acho que deletei o documento todo , enfim, Marilton, se  precisar digitar tudo de novo, me chama que eu vou.

2 comentários:

Guiomar disse...

Por que vc não manda uma carta de agradecimento ou de elogio ao juiz corregedor do fórum ou ao diretor do cartório? Pessoas assim precisam ser valorizadas, sempre. Além de terem boa vontade, têm consciência da importância que é prestar um serviço público.

olimpia disse...

Guiomar, você tem razão. Vou mandar uma cartinha para o cartório.
Obrigada pela dica cidadã.
bjs