domingo, 9 de janeiro de 2011

morar na praia


Quando o verão começa aqui em Santo André da Bahia eu lembro dos desfiles nas ruas dos circos da infância que embrulhava o mundo cotidiano em papel de fantasia tão logo o som das fanfarras anunciava que o elefante, o leão, os palhaços, malabaristas e o domador estavam chegando in town para a temporada anual.  Eu amava o estalo do chicote, as roupitas das dançarinas, a zebra.   Nós, o respeitável público, ficávamos alinhados em cima das calçadas feito presidentes vendo a tropa desfilar. Os artistas punham roupas estupendamente coloridas na frente de nossos olhos alumbrados, as bocas abertas...  Mais tarde, quando crescemos e fomos ao cinema ver os filmes de Fellini tivemos a confirmação de que escolhemos a banalidade: a gente deveria ter feito uma malinha, fugido de casa com a trupe, tido um tórrido caso de amor com o trapezista e casado com o dono do circo.
Imaginem como seria exótica a nossa coleção de animais de estimação! Sair de casa todo dia com um pet diferente – uma foquinha, vinte e três macacos, um tigre de Bengala..Peter Sellers, o ator da Pantera Cor de Rosa, além de ter sido um dos melhores cômicos do cinema era o estado-da-arte da excentricidade. Mandou fabricar um elefante mecânico, do tamanho de um elefante,  que usava para passear no jardim da casa dele causando estupor nos vizinhos.  E uma vez quebrou todos os brinquedos dos filhos só porque eles tinham arranhado seu carro novo.
 Mas voltando à vida aqui na praia, a mostra das fotos da Nerina para mim foi uma das melhores atrações individuais até agora.  Aconteceu duas vezes, uma no Cabana Nativa e a outra sob o cajueiro do rio. São retratos dos nativos clicados ao longo dos 22 verões que Nerina e Giorgio passaram aqui na Bahia, vindos da Ilha de Elba, na Itália. Fotos da época em que não havia cercas entre as casas, nem a estrada de asfalto, nem sequer uma balsa regular: para chegar aqui, até pouco tempo atrás, era na base da canoa.  Embora Nerina tenha posto as fotos no CD, aquelas sessões foram únicas e irreproduzíveis em outro ambiente. É que a platéia dos nativos reagiu de maneira interativa com as imagens. Riam, comentavam e aquelas lágrimas furtivas.
A festa que rolou na beira do rio no último dia do Festival do Verão foi absolutamente linda. Até de madrugada, no meio da rua, na frente do rio, debaixo de estrela. Com direito ao cheiro de churrasquinho de gato, feirinha de artesanato e uma coisa interna que desconfio ser PAZ e ALEGRIA. 
Feliz Ano Novo, Santo André! 
Tanta vibração boa!  A presença do Caio, os amigos dele que tocam a campainha o dia todo – e algumas vezes de madrugada (grrrrrr!!!) – que meninada bonita!  Um grande verão pra esta turma! Surf, paquera, cerveja, comer espetinho em Cabrália, pastel no Lamarão de Mojiquiçaba,  ver filme, fazer pizza em forno de lenha, pirâmide humana no mar, ver o dia nascer na praia...   
A noite de ontem foi tão perfeita, deu pra entrar no avesso e celebrar a vida intimamente. Passamos o primeiro filme do ano no restaurante Casapraia sob um céu de pura escuridão e luz silenciosa. Cláudio baixou da internet, é o último filme do diretor turco-italiano Fercan Ospetek (Mine Vaganti). A platéia confortavelmente ambientada na escuridão da noite, e ainda tinha aquele pontilhado de luzinha de velas, marulho de ondas,  o barulhinho das folhas dos coqueiros.  Conversar com os amigos depois do filme, trocar impressões, abraços com outros habituês. 
Santo André é uma praia diferenciada. Tem muita gente que vem sempre para cá, parece que não estão preocupados com “conhecer lugares diferentes”. Li uma frase hoje no blog do Ricardo Freire que explica um tanto esta característica. 
 “Não há lei que obrigue ninguém a tirar férias cada vez num resort/hotel/praia diferente. Se você gosta muito de um lugar, experimente repetir. Hóspedes freqüentes são mais bem tratados — é fato.” 
E cria um sentimento de “tchurma”, ao cabo de algumas temporadas...

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