sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Idelber Avelar, o blog



Estou lendo um livro de Sándor Márai ("De verdade") com quatro vozes, quatro narradores, que disserta sobre o amor, o casamento e nos põe dentro do camarim de uma decadente Europa entre as duas grandes guerras. Os protagonistas-- um casal e a amante -- lêem muito, não dizem o quê, mas têm livros e os abrem, talvez para ver a sua própria vida de personagens, como o que vai acontecer com eles na página 94.
Acordei, chovia, tomei banho e café, senti saudades porque meu parceiro viajou; peguei o livro para logo abandoná-lo pela internet. Ultimamente o sinal só chega de manhã cedinho aqui na nossa roça.
Entrei no blog de um mineiro que mora em Nova Orleans, é professor, chama-se Idelber Avelar, um homem cheio de letras.
E descobri que ele saiu da rede, eu não disse que a rede estava furada?
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Lá vai, aí embaixo, o último post dele que é metalinguagem pura.
"É hora de dar-lhes uma satisfação sobre os rumos do blog. Depois de muito pensar e examinar alternativas, decidi colocar o Biscoito em regime de hibernação por tempo indeterminado. Achei que conseguiria chegar ao quinto aniversário do blog, em outubro deste ano, no regime de postagens quase diário com o qual os leitores já se acostumaram. Mas não vai dar. Ficou impossível conciliar meu intenso envolvimento com a internet e o trabalho acadêmico que pretendo fazer nos próximos meses.
Claro que pensei na alternativa de manter o blog ativo e reduzir a frequência dos posts. No entanto, como sabe qualquer internauta viciado, as coisas não são tão simples. A vida online suga bastante e a minha, em particular, tem tido forte componente compulsivo. É mais ou menos como parar de fumar. No meu caso, “reduzir” não era uma opção.
Também pensei na possibilidade de convidar alguns dos muitos comentaristas do blog para postarem textos aqui a cada semana, transformando o Biscoito numa espécie de revista. Mas, além de que isso me manteria ligado na caixa de comentários, a ideia não tem muito sentido, visto que praticamente todos os colaboradores em quem pensei têm os seus próprios blogs.
Nestes dez dias sem blogar, redescobri um pouco do intenso prazer de ler a produção acadêmica recente em crítica literária, filosofia e estudos culturais: ler coisas com capa, desenvolvendo um longo, complexo argumento em centenas de páginas, produto de pesquisa e reflexão feita ao longo de anos. É uma experiência que, pelo menos para mim, a internet não substitui. Claro que continuo um entusiasta dos blogs, das redes sociais, das novas mídias. Claro que é possível conciliar as duas coisas, viver simultaneamente nos dois mundos. Este blog provou isso nos últimos cinco anos, em que minha produção acadêmica se manteve mais ou menos constante. Mas o fato é que dá um trabalho do cacete. Meu amigo Michael Bérubé teve um blog comparável durante alguns anos. Precisou parar. Ainda não voltou. Minha suspeita é que vou acabar voltando antes dele mas, agora, impõe-se uma pausa para respirar e recarregar as baterias do intelecto. "

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