Fiquei encafifada com os doze mil acessos que da noite para o dia desapareceram do contador de visitas daqui do redefurada. Sem saber por onde começar a busca, acabei optando pelas técnicas detetivescas empregadas pelo Poirot, um personagem de Agatha Christie, a escritora inglesa de livros de suspense que eu costumava ler décadas atrás – afinal estou ficando velhinha e os métodos de pesquisa criminalística que vejo nos filmes de hoje são um tanto truculentos ou sofisticados demais. Além disso não deixaram traços... nem fio de cabelo, nem pedacinho de unha, mancha de sêmen, ou janela indiscreta para espiar e muito menos testemunhas. Só a queda vertiginosa de um contador que cai.
O próximo passo foi sair à procura dos números pelos navegadores do espaço virtual. Comecei pelo inevitável Google, passei pelo Firefox inteiro, percorri o Linux de cabo a rabo e até entrei no minúsculo Bing – nenhuma pista. Mudei-me para as redes sociais – quem sabe dariam notícia de uma rede furada. As horas foram passando e nada no Orkut nem no Myspace. O Facebook também não estava ajudando muito. Dei dois toques no cursor e quando a página já estava virando -- naquele átimo de segundo -- a cor da touca desta mulher rosa choque chamou minha atenção (é a cor das crocs do meu perfil).
Dei ré. A mulher ainda estava lá, na seção “vocês têm um amigo em comum”. Olhei bem o retrato do amigo comum ampliado pelo zum: definitivamente o fulano era um vero desconhecido – nunca o vira mais magro. Mesmo assim percorri as postagens do blog dele até perceber o título circuito fechado na lista dos blogs prediletos.
Pus o cursor no circuito e dei de cara com outro rapaz simpático – esse lá em cima, vendo a vida no controle remoto. Notei logo que o blog era novo – só tinha umas vinte postagens. Ansiosa, procurei o contador de visitas (nem todo blog tem) e – pasmem! – marcava 12.333 visitas, exatamente o total de acessos que estava faltando no meu.
Levei um tempo para me recuperar. Saí da página do rapaz do trem só para voltar dois minutos depois. Tinha um pressentimento que não deveria ler o que estava escrito.
Mas ninguém resiste a uma boa caixa de pandora. Abri. Foi então que me assustei pra valer: o moço é o meu duplo! Tudo que eu comentava ou postava no meu blog ele repetia invertido:
falei que ia viajar de avião, ele pôs a foto do trem
eu vim para São Paulo, ele foi para o Rio
coloquei a imagem do quadro Alegria de Viver de Matisse – todo esse equilíbrio, a harmonia, as cores – ele postou sobre o horror de Picasso (uma montagem sobre Guernica)
O próximo passo foi sair à procura dos números pelos navegadores do espaço virtual. Comecei pelo inevitável Google, passei pelo Firefox inteiro, percorri o Linux de cabo a rabo e até entrei no minúsculo Bing – nenhuma pista. Mudei-me para as redes sociais – quem sabe dariam notícia de uma rede furada. As horas foram passando e nada no Orkut nem no Myspace. O Facebook também não estava ajudando muito. Dei dois toques no cursor e quando a página já estava virando -- naquele átimo de segundo -- a cor da touca desta mulher rosa choque chamou minha atenção (é a cor das crocs do meu perfil).
Dei ré. A mulher ainda estava lá, na seção “vocês têm um amigo em comum”. Olhei bem o retrato do amigo comum ampliado pelo zum: definitivamente o fulano era um vero desconhecido – nunca o vira mais magro. Mesmo assim percorri as postagens do blog dele até perceber o título circuito fechado na lista dos blogs prediletos.
Pus o cursor no circuito e dei de cara com outro rapaz simpático – esse lá em cima, vendo a vida no controle remoto. Notei logo que o blog era novo – só tinha umas vinte postagens. Ansiosa, procurei o contador de visitas (nem todo blog tem) e – pasmem! – marcava 12.333 visitas, exatamente o total de acessos que estava faltando no meu.
Levei um tempo para me recuperar. Saí da página do rapaz do trem só para voltar dois minutos depois. Tinha um pressentimento que não deveria ler o que estava escrito.
Mas ninguém resiste a uma boa caixa de pandora. Abri. Foi então que me assustei pra valer: o moço é o meu duplo! Tudo que eu comentava ou postava no meu blog ele repetia invertido:
falei que ia viajar de avião, ele pôs a foto do trem
eu vim para São Paulo, ele foi para o Rio
coloquei a imagem do quadro Alegria de Viver de Matisse – todo esse equilíbrio, a harmonia, as cores – ele postou sobre o horror de Picasso (uma montagem sobre Guernica)
Escrevi uma carta carinhosa para meu neto Matteo, ele respondeu com uma missiva para a avó dele (pelo menos ela se chama Matilde)
Fotografei os veleiros que passam em Santo André -- ele pôs a foto dele andando de jet ski
Inseri um vídeo de alta definição – o estado de arte tecnológico -- do Youtube. Ele contrapôs com uma foto de Felice Beato, de 1870 -- um autêntico daguerreótipo Só temos uma coisa em comum, o moço do trem e eu.
Eu tenho marido, ele também tem.
Fotografei os veleiros que passam em Santo André -- ele pôs a foto dele andando de jet ski
Inseri um vídeo de alta definição – o estado de arte tecnológico -- do Youtube. Ele contrapôs com uma foto de Felice Beato, de 1870 -- um autêntico daguerreótipo Só temos uma coisa em comum, o moço do trem e eu.
Eu tenho marido, ele também tem.
6 comentários:
Achei muito doida essa historia...
Vc está na minha cidade e daqui a pouco estarei na sua, hehe.
Adorei a foto do Blog.
Ei, Tânia!
Você está indo hoje para Santo André. Tomara que tenha uma ótima estada! Depois me conte suas impressões sobre a Vila, tá?
Isso não é Agatha Cristie. É Stephen King.
Eu, hein!
Ei, M.Jo!
É qualquer coisa de intermédio...
ótima história! a ilusão de uma realidade! será que a gente sempre acaba encontrando nosso duplo? mesmo sendo assustadoramente imprevisível essa história toda dos acessos, acho que gostaria de encontrar com um por aí... deve ser estranho e criativo. se continuar respondendo inversamente aos seus posts, você pode fazer um sub-blog no blog dele, na página de comentários!!! vingança é um prato deliciosamente frio.
ah! a palavrinha de verificação: "glum", apropriada mesmo.
Oi Piero!
Acho divertida essa ludicidade dos blogs. Adorei a idéia do sub-blog, hehehehe...
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