Vimos o filme dos Amantes (Two lovers), de 2008, pela segunda vez o que me trouxe a curiosidade de ver as obras que antecederam este filme de James Gray. É uma refilmagem de um filme do Visconti chamado Noites Brancas, de 1957, o qual, por sua vez, é livremente baseado na novela homônima de Fiódor Dostoievski, de 1848. Vi o do Visconti num dia e o conto do russo no outro, só tem 40 páginas. É a história de um sonhador que se apaixona por uma mulher que ama outro homem – o amor inalcançável – contada de 3 maneiras diferentes, uma para cada século. Ali se tratam dos temas da solidão, do sonho, da vida, do amor.
As noites brancas acontecem no verão de São Petersburgo, quando o dia não tem fim devido ao fulgor espalhado pelo céu tornando as noites tão claras e luminosas quanto o dia. Tais noites são o símbolo do conto de Dostoiévski, representam o sonho que imita a vida até substituí-la por completo. Segundo o próprio escritor (em Crônicas de Petersburgo, 1847) a realidade produz no coração do sonhador uma impressão hostil que o faz se afastar para o seu cantinho secreto e dourado. Pouco a pouco passa a se alienar dos interesses comuns e começa a perder imperceptivelmente o talento de viver a vida real. No livro, este protagonista não é nomeado.
Nas três versões, o espaço deixa de ser mera ambientação da trama para realçar a representação das emoções e do universo interior dos personagens. A cidade, no começo alegre e jovial, vai se esvaziando e assumindo um tom taciturno. No filme de Visconti a adaptação é belíssima, o cenário foi especialmente construído para a ambientação da estória – uma Livorno melancólica e onírica (rio, canais, pontes, postes de luz) por onde Mastroianni deambula numa noite de insônia propícia à divagação e inesperadamente encontra uma moça ingênua apoiada em uma balaustrada à beira do canal. É a mulher com quem viverá, durante 4 noites seguidas, uma história de amor platônico de arrasar. Filmado em preto e branco, Noites Brancas tem nuances memoráveis (foram usados verdes e azuis para obter mais gradação e luminosidade na cor) justificando a fama de exigência do diretor italiano.
Amantes é um filme intenso sobre amor e desejo, de James Gray, um cineasta americano admirador de Luchino Visconti, de Fellini, de óperas e melodramas. Nele, Joaquin Phoenix quer se matar, mas acha um motivo para viver no amor de Gwyneth Paltrow embora ela esteja apaixonada por um homem casado. Só que o diretor passa longe do melodrama tradicional pois concentra o foco no sofrimento do protagonista e não no triângulo amoroso. A trilha sonora do filme de Visconti é do carismático Nino Rotta, mas a do James Gray não faz feio – Michelle (Paltrow) é apaixonada por ópera (no livro de Doistoievski os protagonistas vão assistir ao Barbeiro de Sevilha) e as árias vão ilustrando a paixão que Leonard (Phoenix) nutre por ela.
Nas três obras o final é bem parecido: com a volta do amado da moça – a realização do sonho dela – o nosso sonhador retoma sua solidão e volta a se confinar num mundo de sonhos e de desejos irrealizados.
As noites brancas acontecem no verão de São Petersburgo, quando o dia não tem fim devido ao fulgor espalhado pelo céu tornando as noites tão claras e luminosas quanto o dia. Tais noites são o símbolo do conto de Dostoiévski, representam o sonho que imita a vida até substituí-la por completo. Segundo o próprio escritor (em Crônicas de Petersburgo, 1847) a realidade produz no coração do sonhador uma impressão hostil que o faz se afastar para o seu cantinho secreto e dourado. Pouco a pouco passa a se alienar dos interesses comuns e começa a perder imperceptivelmente o talento de viver a vida real. No livro, este protagonista não é nomeado.
Nas três versões, o espaço deixa de ser mera ambientação da trama para realçar a representação das emoções e do universo interior dos personagens. A cidade, no começo alegre e jovial, vai se esvaziando e assumindo um tom taciturno. No filme de Visconti a adaptação é belíssima, o cenário foi especialmente construído para a ambientação da estória – uma Livorno melancólica e onírica (rio, canais, pontes, postes de luz) por onde Mastroianni deambula numa noite de insônia propícia à divagação e inesperadamente encontra uma moça ingênua apoiada em uma balaustrada à beira do canal. É a mulher com quem viverá, durante 4 noites seguidas, uma história de amor platônico de arrasar. Filmado em preto e branco, Noites Brancas tem nuances memoráveis (foram usados verdes e azuis para obter mais gradação e luminosidade na cor) justificando a fama de exigência do diretor italiano.
Amantes é um filme intenso sobre amor e desejo, de James Gray, um cineasta americano admirador de Luchino Visconti, de Fellini, de óperas e melodramas. Nele, Joaquin Phoenix quer se matar, mas acha um motivo para viver no amor de Gwyneth Paltrow embora ela esteja apaixonada por um homem casado. Só que o diretor passa longe do melodrama tradicional pois concentra o foco no sofrimento do protagonista e não no triângulo amoroso. A trilha sonora do filme de Visconti é do carismático Nino Rotta, mas a do James Gray não faz feio – Michelle (Paltrow) é apaixonada por ópera (no livro de Doistoievski os protagonistas vão assistir ao Barbeiro de Sevilha) e as árias vão ilustrando a paixão que Leonard (Phoenix) nutre por ela.
Nas três obras o final é bem parecido: com a volta do amado da moça – a realização do sonho dela – o nosso sonhador retoma sua solidão e volta a se confinar num mundo de sonhos e de desejos irrealizados.
Um comentário:
Passo a gostar mais do filme agora, depois que você contou.
bjks
Postar um comentário