No aniversário do Hans ganhei um lindo presente dele e de Wally – a foto do cabeçalho do blog. Quem mora ou é habitué daqui sabe que o homem com o pássaro na cabeça é o Elielto, um pescador bem estimado na comunidade, membro de numerosa família nativa.
Gente, eu amei esta foto!
Foi tirada no mesmo dia em que os dois saíram para o mar no Pólo Aquático e conseguiram pegar estes peixes. Eu estava conversando justamente com o Elielto, quando me levantei para assistir no computador o vídeo do Youtube que mostrava os rostos risonhos e os cabelos loirinhos das meninas da Daniela, as netinhas do casal, cantando parabéns para o Hans diretamente de Stugartt. Na volta, perguntei para o Elielto sobre o pássaro, um pato do mar, ele respondeu e uma imagem deliciosa me veio à mente. A conversa se encaminhou para albatrozes, gaivotas, a pesca do camarão e o eixo do motor do barco do Cláudio que estava desalinhado, processo que o Elielto tem acompanhado passo a passo.
Parentêsis 1: A casa do aniversariante fica num outeiro, no meio de uma mata formada por altas árvores, uma beleza de folhagem tropical, são tantas e variadas, formam um bosque denso e sombreado ao redor da habitação deles e dos outros alemães. Quando chegamos, notei que se balançavam suavemente impelidas por um tímido vento Leste. Enquanto subia a pé a ampla rampa de piso de pedra, pensava no escritor alemão que estou lendo agora, chamado W.G.Sebald porque o cara tem um dom ímpar para descrever ambientes naturais e um vocabulário extraordinário para falar da flora européia. Abrindo ao acaso, acho a seguinte passagem:
“Alguns dos cedros e dos lariços tinham quarenta metros de altura, uma cicuta-da-europa com certeza cinqüenta. Entre as árvores se abriam pequenos campos florestados onde jacintos azuis, cardamomos brancos e barbas-de-bode-amarelas cresciam lado a lado. Em outras partes havia diferentes samambaias, e a folhagem nova do bordo-anão-japonês, acesa pelo raios de sol, oscilava sobre as folhas mortas no chão.” (Os Emigrantes).
Sebald ia se esbaldar, se pudesse escrever sobre as matas das encostas das serras e das roças daqui da Vila, mas isto não será possível porque o cara morreu em 2001.
A casa e o jardim foram se enchendo com os convidados, esse grupo heterogêneo de brasileiros, alemães,argentinos, franceses, suíços e italianos que transita por aqui. Este último, é o grupo normalmente majoritário, embora naquela noite o idioma alemãopredominasse. Ouvia-se música clássica no início da festa (parecia Vivaldi), depois a trilha musical foi arranjada por uma das bandas mais originais do lugar porque ela tem um núcleo básico e variações infinitas, depende de quem está na hora para tocar. Nesta noite estavam Jean-Fraçois, Luc, Giampi, Martim e Mimo, agora estou na dúvida se o Marcelo Bottini apareceu. É a banda mais internacional de Santo André, a gente tem o maior carinho por eles, porque são do lugar.
Foi mesmo uma noite linda, e era dessa mistura boa de gentes diferentes que eu queria falar, porque quando me levantei da cadeira do jardim e me dirigi à mesa de doces, deparei com outro amigo que me falou sobre Lauren Hutton no filme American Gigolo e também sobre o cenário do filme Gattaca e sobre a arquitetura de Frank Lloyd Wright. Olhei para a mesa dos doces onde se destacavam um doce de jaca caseiro – que estava bom de matar – e um bolo de pâtisserie com cobertura de ganache e pensei que metaforicamente aqueles doces eram a cara e o espírito de Santo André.
Abaixo, o Marin County Civic Center, o cenário do filme Gattaca, de Andrew Niccol (1998), sobre o qual me falava Amadeo. O diretor utiliza os espaços monumentais do edifício para criar um ambiente de estranheza (é um filme de sci-fi)
2 comentários:
Linda a foto. Parece realismo mágico fotográfico... Legal.
Gostei da expressão "realismo mágico fotográfico."
Tema bom pra ser explorado.
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