sábado, 9 de maio de 2009

Um poeta italiano: Cesare Pavese

Comprei um livro de Cesare Pavese, chamado "Trabalhar cansa", (Lavorare stanca), em edição bilingue.
No poema “Os mares do sul”, dá para identificar um jogo de duplos: o narrador e seu primo. Há a paisagem rural e os lugares exóticos e distantes. Há cavalos e há automóveis. O antigo e o moderno.

"MARES DO SUL" (excerto)

"Vinte anos circulou por esse mundo
Foi embora quando eu ainda menino, no colo das moças,
e o deram por morto. Mulheres havia
que o citavam, às vezes, como em fábulas,
mas os homens, circunspetos, o esqueceram.
Num inverno chegou a meu pai, que já havia morrido,
um postal com um selo em cor verde, de barcos num porto
e desejos de boa vindima. Foi enorme o espanto,
e menino crescido explicou num rompante
que o cartão procedia de uma ilha chamada Tasmânia
rodeada de um mar todo azul, com cruéis tubarões,
no Pacífico, ao sul da Austrália. E adiantou que decerto
seu primo pescava pérolas. E arrancou o selo.
Todos deram o seu parecer, concluindo
que, se ainda não morrera, morreria.
Muito tempo passou e esqueceram-no todos.
(...)
O meu primo voltou, terminada a guerra,
um gigante entre poucos. E tinha dinheiro.
Os parentes diziam baixinho: “Em um ano, se tanto,
já torrou tudo e retorna as viagens.
É assim que morrem os desesperados.”
Ele tem uma cara obstinada. Comprou um terreno
na aldeia e ergueu uma sólida garagem
que ostentava, brilhante, uma bomba para a gasolina
e na ponte, bem grande, na curva, um cartaz chamativo. "
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"Vent'anni è stato in giro per il mondo.
Se n' andò ch'io ero ancora un bambino portato da donne
e lo dissero morto. Sentii poi parlarne
da donne, come in favola, talvolta;
uomini, più gravi, lo scordarono.
Un inverno a mio padre già morto arrivò un cartoncino
con un gran francobollo verdastro di navi in un porto
e auguri di buona vendemmia. Fu un grande stupore,
ma il bambino cresciuto spiegò avidamente
che il biglietto veniva da un'isola detta Tasmania
circondata da un mare più azzurro, feroce di squali,
nel Pacifico, a sud dell'Australia. E aggiunse che certo
il cugino pescava le perle. E staccò il francobollo.
Tutti diedero un loro parere, ma tutti conclusero
che, se non era morto, morirebbe.
Poi scordarono tutti e passò molto tempo.
(...)
Mio cugino è tornato, finita la guerra,
gigantesco, tra i pochi. E aveva denaro.
I parenti dicevano piano: "Fra un anno, a dir molto,
se li è mangiati tutti e torna in giro.
I disperati muoiono cosi ".
Mio cugino ha una faccia recisa. Comprò un pianterreno
nel paese e ci fece riuscire un garage di cemento
con dinanzi fiammante la pila per dar la benzina
e sul ponte hen grossa alla curva una targa-réclame."
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a foto é de Gisela Muller ("Kaikora" - Nova Zelândia)

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