sábado, 30 de maio de 2009

Uma banda perdida na solidão

Um dia, não faz tanto tempo assim, uma pequena banda de polícia egípcia chega à Israel para se apresentar num festival cultural. No aeroporto, uma inesperada complicação: ninguém para recebê-los.
Procuram resolver o problema e acabam chegando numa pequena e desolada cidade israelense, no meio do deserto, um ambiente estranho num país historicamente hostil.
Uma banda solitária numa cidade deslembrada.
Ninguém recorda muito bem deste acontecimento. Não foi tão importante.
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São mais ou menos essas as palavras que dão início ao filme do roteirista e diretor israelense Elan Korilin, seguidas pela imagem do personagem principal -- entoando uma música árabe -- trajando um impecável uniforme azul-pálido: a cor da farda se destaca contra o cenário monocromático: ótima escolha estética.
O desenrolar do filme é lento, contemplativo e estendido, como na câmera de Antonioni. A paisagem tem um ar do Bagdad Café de Wenders. A cidadezinha onde chegam por acaso é deserta de diversão e cultura: não há nada para fazer por lá. Parece que o tempo parou – não há ação – e aos poucos vamos ingressando no universo da solidão dos personagens tanto do grupo da banda como dos habitantes daquelas paragens ermas.
O filme está mais voltado para mostrar o interior das pessoas, uns seres comuns, universais.
A dona (israelense) de um restaurante – que atriz! – consegue organizar a hospedagem para os egípcios e lá eles permanecem por 24 horas, tendo apenas (apenas?) a música e o amor como elementos de conexão.
O filme, despretensioso na produção e nos efeitos, ganhou diversos prêmios em festivais de cinema, mas foi banido da Mostra Internacional de Cinema do Cairo, porque na vida real, infelizmente, os egípcios e os israelenses não se dão tão bem como no filme.
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A platéia da Banda, em Santo André: numa cidadezinha que nesse tempo de inverno lembra a solidão do deserto israelense, a surpresa de uma noite vívida, o restaurante com as mesas repletas e a breve performance da figura esguia de olhos claros a deslizar com pratos e garrafas, vestindo nenhum uniforme azul-pálido, mas um sensual body de padrão oncinha e renda negra na parte da frente. E um ousadíssimo fio dental atrás.

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