domingo, 22 de agosto de 2010

Caleta Tortel, um vilarejo chileno

Quando o carteiro chegou e o meu nome gritou com uma carta na mão só tive a coragem de chegar ao portão porque lembrei que em Santo André não existe correio nem carteiro. Faz uma falta danada porque todos nós, exceto os cachorros, gostamos dos carteiros.  Quem mora aqui precisa alugar uma caixa postal na cidade que fica do outro lado do rio -- se quiser receber correspondência. Toda vez que a gente entra numa loja para fazer um crediário eles nos perguntam o endereço, como é natural, mas quando respondemos que moramos numa caixa postal  número tal eles começam a olhar  pra gente desconfiados e se você não explicar direitinho a prestação salta casas com medo dos calotes.
Isto é um abuso, um descaso da municipalidade. Mesmo em Caleta Tortel havia correio. Caleta é um vilarejo chileno, um lugar que fica além do fim do mundo, situado entre duas geleiras e se descambando da encosta da montanha pra dentro de um rio de águas incrivelmente verdes, o rio Baker.  Taí um destino exótico.  Fomos parar lá por puro acaso, Cláudio, Caio e eu, durante uma viagem de carro pela Carretera Austral, a famosa rota para aventureiros que desce serpenteando pela Patagônia chilena e vai se equilibrando pelas estreitas trilhas da cordilheira dos Andes até o mapa quase acabar. É cercada por fiordes, estuários e ilhas – um lugar incrivelmente bonito. Foi a viagem da minha vida, durou quase dois meses, partimos de Brasília e rodamos  16 mil e 500 kms.  Metade de uma volta ao mundo.  A cidadezinha é toda construída em cima de estacas, não há ruas nem carros nem motos -- só passarelas.  E como andar por lá é muito custoso e cansativo, instituíram um serviço de correio singular. Em vez do carteiro gastar os solados pelas intermináveis escadarias,  fizeram um posto de correio onde se escreve numa lousa todas as correspondências que chegaram no avião semanal – carta para o Juan, encomenda para Alícia, telegrama para o Senor Fuentes... Cada um vai lá pegar o envelope e as notícias que lhe pertencem.
Enfim, era só o rapaz do IBGE que estava no portão -- veio para recensear a população.

                              As águas do Rio Baker. Que nome bobo. O rio deveria se chamar Esmeralda.       
Caleta Tortel, o povoado no fim do mapa

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