terça-feira, 10 de agosto de 2010

vivendo (e aprendendo) no povoado

O  começo da noite já se anuncia nas nuvens foscas espalhadas no pedaço de céu que consigo enxergar acima da copa das árvores ao redor do meu escritório -- uma pequena mesa redonda de madeira postada na varanda de minha casa. É o único lugar que pega o sinal da internet móvel que utilizamos. Ou deveria dizer internet imóvel? Ultimamente ando checando a velocidade de transmissão de dados – neste momento 7.2 Mbps. Um cágado, como diria o amigo Nelson Zippin.  Na casa dele tem uma antena tão possante que chega a atingir  uma velocidade “infinita”, ou seja, a coisa por lá é na base do terabyte.
Mas o que quero fazer agora é um blog-blog para falar do meu cotidiano de mulher aposentada que saiu de 30 anos de Brasília para morar neste povoado de poucas centenas de almas baianas.  Quatro anos depois continuo persistindo na idéia de ter uma rotina, acho rotina uma coisa imprescindível para quem fechou um longo ciclo de acordar cedo para trabalhar, criar filhos e fazer todo o resto numa infindável correria organizada.  Ao contrário do que  eu esperava, minha vida não se tornou uma eterna lentidão desorganizada. Não verdade, não sei como definir o meu cotidiano atual.  Talvez seja melhor eu me referir apenas aos últimos dias passados aqui no vilarejo.
Desde a semana passada está rolando um evento náutico bianual chamado Cruzeiro Costa Leste que transforma o povoado durante sua estada na enseada. São dezenas de veleiros que navegam juntos pela costa brasileira (na foto, os velejadores em estado carpe diem durante almoço no restaurante Gaivota). Acontece há oito anos e tem como ponto de partida o Iate Clube do Rio, seguindo para Búzios, passando pelo cabo de São Tomé e atracando em Vitória, de onde segue para o arquipélago de Abrolhos.
A partir desse ponto, o cruzeiro desce para a Vila de Santo André, o povoado que é o mote central deste blog.  Daqui eles vão até Ilhéus – uma parada técnica --  e depois prosseguem até a Baía de Camamu. A última escala é decidida pelo comandante de cada veleiro, que pode optar pela pouco conhecida Garapuá ou Morro de São Paulo, de onde o grupo segue para Salvador.
Pois bem, um dos organizadores desta odisséia brasileira, é o Ronaldo Coelho, dono e comandante do veleiro Feitiço (foto), uma pessoa de energia inesgotável e uma baita vontade de cooperar com quem precisa.   Acho que já expliquei anteriormente que o Cruzeiro tem uma característica solidária –  seus participantes angariam e distribuem material escolar, roupas, equipamentos médicos e outros itens preciosos para comunidades carentes como a nossa. Hoje grande parte do dia foi preenchida pela tarefa de selecionar, organizar e distribuir este material. Parte foi doada à Escola Municipal e o restante dividido entre o Centro Cultural, o IASA e a escolinha Maria Marta. Ainda sobrou um pouco para levarmos (amanhã) para a escola municipal de Santo Antônio,  outro povoado do lado de cá do rio João de Tiba.
E ainda falta ir ao Posto de Saúde levar a cadeira de rodas, as muletas e os andadores que foram doados à Associação de Moradores de Santo André (AMASA). 
Mais tarde atravessamos de balsa para o outro lado do rio e fomos (Ronaldo, Cláudio e eu) visitar uma escolinha de vela que existe na Ponta do Mutá – uma praia de Porto Seguro encostada à Coroa Vermelha.  A dona da escola, uma moça que trocou a Avenida Paulista pelos ventos e velas do litoral baiano, chama-se Heloísa Soares. Ela nos recebeu muito bem, conversamos e almoçamos juntos, todos embalados neste sonho de começar uma escolinha de vela aqui em Santo André (continua no próximo número).
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as fotos achei no blog portomarinabracuhy.zip.net (obrigada!)

2 comentários:

Dagmar disse...

Olá Olímpia,
adorei o novo "visu" do blog, bem sugestivo...
Tenho acompanhado as postagens e ao mesmo tempo "fascinado" com as ações solidárias desenvolvidas por aí. Alguns podem dizer que este tipo de ação não ajuda muito e que na verdade só aumentam o assistencialismo. Pois eu acredito que estas ações desenvolvem bns exemplos de solidariedade e podem "levantar" vidas do abismo. Às vezes, só se precisa de um empurrãozinho para levantar vôo. Cartinho, atenção, não se dá somente em palavras. A educção não é feita a penas de teorias... o exemplo, a ação, na verdade, concretiza o que se prega e isso é muito bom!
Parabéns!!!!
Um beijo
Dagui

olimpia disse...

Dagmar, a nossa expectativa é justamente esta. Santo André tem uma tradição de receber apoio dos moradores que optaram por morar aqui.
Eu só estou aqui há 4 anos, mas desde que cheguei aqui achei este povoado diferente dos outros...Já dá para notar, nas gerações mais novas, alguma diferença.
Acho que qq coisa que se refere à educação deixa de ser assistencialismo e passa a ser investimento. E é melhor do que ficar de braços cruzados...
bjs, obrigada
olimpia