quarta-feira, 18 de agosto de 2010

carta para uma amiga mineira

E agora? onde vou morar?
Cara ND,
Sabe que li sua carta com alegria? Isso que você me falou – que virá passar 2 semanas em Santo André influenciada pela leitura do blog – me deixou toda pimpona.  Embora esteja um pouco assustada com a sua expectativa – vejo que é alta. Imagine se a lei de Murphy ataca novamente e algo corre errado...Quem controla o imprevisível?
A época do ano que você e seu marido escolheram – o alto verão --  é atípica para nós, os moradores. Sem dúvida é a estação mais plena de eventos, movimentada e propensa às surpresas – geralmente boas. O “clima” da cidade é mais fremente, vívido. É um músico que passa e dá uma canja de sax, de canto erudito, de música de cabaré, de balada australiana ou francesa; é quando uma banda se improvisa sem que ninguém se conheça, quando ocorre um desfile de modas inesperado, quando uma boa polêmica desliza no ar. Aqui há uma certa divisão ideológica quando o assunto é ecologia X desenvolvimento.  Mas não se preocupe – mesmo no verão não há muvuca. Muito pelo contrário, o lugar conserva o ar bucólico que lhe dá especial encanto.  
uma mesa apetitosa
Boa parte dos nossos amigos trabalha no segmento do turismo – a  gente sabe que o verão está começando quando eles não dão a mínima pra nós porque estão deveras ocupados. Talvez por isto eu não morra de amores pelo verão, me sinto abandonada, e um tanto enciumada quando vejo minha mesa predileta dos restaurantes ocupadas pelos visitantes.  Prefiro como agora, na baixa estação, inclusive pelo clima fresquinho – o termômetro aqui da minha varanda-escritório marca 20 graus.  Julho e agosto é também a época que nossos amigos italianos vêm para as férias e a gente pode desfrutar da amizade e da culinária italiana como este almoço que rolou ontem na casa de praia de um casal de Milão. Tenho certeza que desfrutamos do melhor da comida mediterrânea –  e olhe que sou boa de garfo!  Uma mesa comprida na varanda; uma mesa participativa porque ladeada de bancos de madeira, um de cada lado. Bancos fazem parte do mobiliário aconchegante,  pois favorecem a  intimidade e cumplicidade com os outros convidados (eu gosto, embora fique com dor nas costas depois).   Mais individual do que cadeira só impressão digital ou fobia. Ao longo da mesa – ó, visão deliciosa! – diferentes comidinhas. Guacamole, húmus com ervilha seca, caviar de alga, bolinhos de amêndoas com sarraceno, quadradinhos de melão amontoados em pratos coloridos, o patê de fígado do Arosio, nada,  nada simplinho como parece à primeira vista. Cada guloseima daquelas trazia uma pitada de tempero *** ou frutas secas fatiadas, ou gotas de ***.  Em seguida, um desfile de pastas... bem, todo mundo sabe como os italianos se tratam quando se trata de comida.
procurando praia para morar
À noite quase tive um colapso quando a Cristiane passou e chamou para comer pizza na Joyce.
"when downtown is a hot-dog stand"
 Bem, você me perguntou como vim parar aqui e se morar numa vila de pescadores  misturados com estrangeiros e o escambau era um projeto de vida – SIM.  Cláudio e eu sempre gostamos de viajar para lugares roots. Cachoeiras, praias desertas, desertos, lugarejos.

A Camila (na foto com meus dois netos) costumava dizer que tinha trauma dos destinos para os quais os levávamos nas férias – “lugares onde o centro da cidade (quando havia) era uma carrocinha de cachorro-quente”.  Nós dois viajávamos incessantemente nas férias e feriadões para pesquisar o litoral brasileiro  e descobrir onde iríamos morar na hora da aposentadoria .  Começamos as visitas investigativas pelas praias ao longo da estrada  Rio-Santos  e rapidinho descartamos este território, mesmo Paraty, a cidade brasileira à beira-mar mais bonita que conheço. A água do mar é muito fria, os preços dos imóveis muito caros -- embora eu creia que a exclusão tenha sido por questões culturais. O chamamento  da nordestinidade é muito forte! Seja pela simpatia do povo, ou da naturalidade, ou pela empatia com minhas raízes (nasci no RN). Sempre em etapas, fomos conhecendo uma fieira de praias.  Levamos uns  10 anos para ir subindo a costa brasileira aos poucos até chegar aos Lençóis Maranhenses. Sem muita organização, nem linearidade. Num ano a gente estava em Jericoaquara (CE), no outro em Bombas&Bombinhas em Santa Catarina... Enquanto isto, a Bahia sempre pulsando forte dentro do peito.  Pra encurtar a história – chegamos em Santo André e  até agora estou segura que este lugar veio pra ficar na minha vida.
crianças de Santo André da Bahia
Espero que você goste dele.

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