quarta-feira, 11 de março de 2009

A maleta de meu pai



Em São Paulo, sempre visito a Livraria Cultura, na esquina da Augusta com a Paulista. Foi andando por lá que descobri A maleta de meu pai, ou melhor do pai dele, um livro pequenino contendo três discursos do escritor turco e prêmio Nobel Orhan Pamuk.
O autor discorre sobre seu processo de criação, sobre o papel do escritor no mundo e sobre o fascínio que a literatura – “ o tesouro mais valioso que a humanidade acumulou em sua busca de compreender a si mesma” – exerce sobre o leitor.

No livro, Pamuk conta que trabalha cerca de 10 horas por dia para produzir meia-página, tamanho é seu esforço em reler, revisar, reescrever: lapidar a palavra. Imagino o esforço que lhe custou este livro, onde ele fala “fácil” (qualquer um entende) de coisas difíceis.

Eis a resposta deste autor à pergunta mais freqüente que se faz a um escritor: “Por que você escreve?”.

“Escrevo porque tenho uma necessidade inata de escrever!
Escrevo porque sou incapaz de fazer um trabalho normal, como as outras pessoas.
Escrevo porque quero ler livros como os que eu escrevo.
Escrevo porque sinto raiva de todos vocês, sinto raiva de todo mundo.
Escrevo porque adoro passar o dia sentado à mesa escrevendo.
Escrevo porque só consigo participar da vida real quando a modifico.
Escrevo porque quero que os outros, todos nós, o mundo inteiro, saibam que tipo de vida nós vivemos, e continuamos a viver, em Istambul, na Turquia.
Escrevo porque adoro o cheiro do papel, da caneta e da tinta.
Escrevo porque acredito na literatura, na arte do romance, mais do que em qualquer outra coisa. Escrevo porque é um hábito, uma paixão.
Escrevo porque tenho medo de ser esquecido, porque gosto da glória e do interesse que a literatura traz.
Escrevo para ficar só. Talvez escreva porque tenho a esperança de entender por que eu sinto tanta, tanta raiva de todos vocês, tanta, tanta raiva de todo mundo.
Escrevo porque gosto de ser lido.
Escrevo porque depois que começo um romance, um ensaio, uma página, sempre quero chegar ao fim.
Escrevo porque todo mundo espera que eu escreva.
Escrevo porque tenho uma crença infantil na imortalidade das bibliotecas, e na maneira como meus livros são dispostos na prateleira.
Escrevo porque é animador transformar todas as belezas e riquezas da vida em palavras. Escrevo não para contar uma história, mas para compor uma história.
Escrevo porque desejo escapar do presságio de que existe um lugar para onde preciso ir mas ao qual – como um sonho – nunca chego.
Escrevo porque jamais consegui ser feliz.
Escrevo para ser feliz”.