sexta-feira, 1 de maio de 2009

História de taxista



Quando o avião levantou vôo, tomou um rumo diferente do habitual. O dia límpido deixava avistar até a Coroa Alta, a ilha de areia que vive rodeada de escunas e turistas. Os mais apavorados perguntavam à aeromoça a razão da mudança da rota: não prestei atenção à resposta.

Chegamos em Cumbica exatamente no horário previsto. Na esteira rolante, minha mala, inconfundível com aquela horrorosa meia amarela presa à alça. De olho no relógio, corri empurrando o carrinho com a mala e o laptop: eu tinha 4 minutos para chegar ao estacionamento do ônibus da companhia aérea que me levaria para o aeroporto de Congonhas.

Felicidade, cheguei a tempo.

Quem não chegou, foi o ônibus da Gol. Aquele que deveria nos levar para Congonhas às 15:30. Na véspera de um feriadão, perdeu-se, entre os dois aeroportos paulistas. O tráfico travou: devia ter um milhão ou mais de paulistanos tentando sair da cidade. O funcionário pediu paciência, mas não tinha previsão de horário para o próximo ônibus. Após alguns minutos de indecisão, desisti do ônibus grátis e comprei a passagem em outra companhia. Saímos às 16:00 e só conseguimos chegar em Congonhas três horas depois. Três horas trancada, andando a 10 kms por hora. Por aí.

Para distrair, só a conversa de um passageiro ao celular. Falava alto e alternava conversa com a ex e a atual mulher. Explicava para uma que não poderia pegar as crianças, enquanto tentava convencer a outra a ir apanhá-lo no aeroporto. Parece que se deu mal, a voz dele foi ficando mais e mais fraquinha e as ligações foram rareando. Tivemos que nos consolar com a música de baixa qualidade que vinha da estação predileta do motorista.

Minha aflição era intensa: minha irmã e minha sobrinha estavam vindo de Brasília e o combinado era que eu as aguardaria no apartamento. Elas nunca haviam estado lá e nem tinham a chave. Intimamente, eu me recriminava por não ter tido a idéia de avisar o porteiro. Ficariam na rua – regras de segurança do prédio -- e eu não portava celular.

Quando cheguei ao edifício não avistei ninguém. O porteiro noturno reconheceu-me, abriu os portões e, à guisa de saudação, perguntou-me de chofre se o taxista estava perdido.
“Não”, respondi, surpresa.
“Mas ele ligou para cá, perguntando como chegar”.
“Como assim?”, perguntei.
Ele abriu um baita sorriso e falou: “Eu sabia! Eu sabia que era um golpe.”
“Golpe?”
Só fui entender quando minha irmã chegou.

Um comentário:

piero eyben disse...

o livro é sensacional mesmo... vale muito a pena... mas há tempo, acho que é um livro que vai ficar. vou dar uma olhada no Rahimi... querendo ler coisas novas também.
pode linkar o que quiser...
e a história está ótima como se apresenta... ri muito.
estamos pensando sim ir à FLIP, mas hoje dei uma olhada nas pousadas... estão mais salgadas que bacalhau... mas vamos ver... talvez um ímpeto nos leve... a Fabricia está escrevendo tese sobre António Lobo Antunes e Miltom Hatoum... ambos estarão lá... seria ótimo, né?