segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

como viajar sem sair de casa

Quando se mora numa povoação turística, a chegada do verão traz algo além das meras mudanças climáticas – o estio é a época do ano onde os turistas entram em cena para coadjuvar com os locais, nas praias, nas ruas, nos lugares de entretenimento. Rodei meio mundo na condição de visitante, a diferença, agora que moro em Santo André, é que o caleidoscópio girou, atravessei a fronteira e passei para o outro lado: sou moradora, sou localPensando nisto, lembrei de um filme de uns quinze anos atrás estrelado por William Hurt e Geena Davis chamado O turista acidental. Vem a ser a estória de Larry, um escritor de guias de viagens que não gosta de viajar e se por acaso tem de fazê-lo procura se situar dentro do comportamento padronizado. Não arrisca, não belisca, não petisca. Larry é o tipo de pessoa que guarda os alimentos na ordem alfabética, é capaz de jogar o mesmo jogo com os irmãos vezes sem conta, controla a temperatura do peru assado com minuciosa precisão, e não abraça ninguém. Essa vida metódica e convencional é chocalhada quando ele conhece Muriel, uma mulher extrovertida e amante da vida.
Acho que são nas viagens que o nosso lado Larry se revela. Há uns dois dias, eu estava conversando com amigos num restaurante daqui de Santo André quando ouvi um trecho da conversa da mesa vizinha. Na verdade, uma reclamação sobre a vagareza do garçom e a falta de um determinado prato que constava no cardápio. O que mais me chamou a atenção foi a frase conclusiva “isto não acontece no Rio de Janeiro.”
Ora... aqui não é o Rio, é outro lugar. Não há uma estação de trufas brancas, o vinho local ainda não foi fabricado, mas o lento aparecimento de uma lua cheia alaranjada saindo de dentro do mar, na altura da foz do rio não é espetáculo banal e quem não tiver olhos para perceber o esplendor do momento está perdendo o melhor. Acontece desde domingo, de graça, na enseada ou no mar.
Se eu fosse turista em Santo André eu procuraria
caminhar muito a pé (nas praias, nas ruas do povoado)
conhecer a culinária do local visitando restaurantes diferentes,
alugar um caiaque e ir até a ilha do mangue,
tomar uma cerveja ou água de coco na Praia da Ponta de Santo André, onde param as escunas e onde se trava contato com as pessoas da Vila que trabalham na praia,
conhecer um pouco mais do vilarejo saindo da rua principal e explorando as vias secundárias com seus bequinhos atravessados,
ver os atletas (inclusive as mulheres nativas) treinarem no campo de futebol,
assistir a um filme exibido pelo Cine Cajueiro (no verão, às terças e quartas),
conhecer as duas ONGs locais que se dedicam a incrementar o acesso aos produtos culturais,
(instrumentos musicais da Lutheria do IASA)
(uma das danças apresentadas no espetáculo anual do Centro Cultural)
passear pelas lojinhas que só abrem no verão,
saborear as cocadas da fábrica de doces da Iolete,
ver o artesanato (os ateliês da Leila Tassis, do Ruy, da Virgínia Mares, da Vera Zippin, da Lady, o trabalho das fuxiqueiras)
conversar com os locais, nativos, estrangeiros ou brasileiros de outros estados,
visitar os povoados vizinhos, principalmente o Guaiú onde fica a famosa barraca da Maria Nilza e a Barraca da Léo e do Elias (frutos do mar, guaiamuns, pastéis),
fazer um passeio de barco ou de escuna até a Coroa Alta e o Araripe,
apreciar com calma a vegetação daqui
e, principalmente, procurar descobrir qual é...

2 comentários:

m.Jo. disse...

Fiquei devendo o roteiro básico de Sto André quase todo, vou ter que voltar.

olimpia disse...

m. Jo.
venha mesmo!
Santo André adora visitantes como você (de olhos abertos)
bjks