sábado, 9 de janeiro de 2010

programa com índio



São poucos minutos de caminhada entre minha casa e a passagem para o mar que fica ao lado do restaurante Gaivota. Primeiro, caminho um tiquinho até o cruzamento da minha rua com a rua transversal da Aldeia Tangerina; neste ponto, viro para a direita e tomo o rumo do cajueiro grande de tronco deitado que fica no fim da via. É uma árvore copada e curvada sobre si mesma -- encosta no chão -- uma espécie de cajueiro lounge que abriga namorados, crianças, batucada de samba e vendedor de cangas buscando sombra. Dali já dá para vislumbrar a abertura para o braço de mar, o caminho das índias; é por lá que passam diariamente as mulheres pataxós que vêm da Coroa Vermelha para cá querendo vender os colares, as pulseiras, as penas multicoloridas para os turistas da praia de Santo André.
Pela primeira vez convivo com eventos do quotidiano protagonizados por indígenas. Tendo morado em Brasília por longo tempo, o único acontecimento do gênero (em décadas) foi de natureza trágica, a morte do índio Galdino. Afora isto, só de vez em quando avistava alguns índios na porta da FUNAI, perto do parque da cidade. Por aqui, na Costa do Descobrimento, a interface com os índios é bem maior e fatos como o fechamento da estrada que vem de Porto Seguro para Santa Cruz Cabrália não são de todo raros -- geralmente em protesto contra atos arbitrários. Em 2009 houve o qüiproquó da cabana construída na praia defronte ao resort Costa Brasilis; alguns índios instalaram uma barraca de palha e plástico (bem feinha) na beira da praia em frente ao hotel, o que exigiu uma negociação hábil e rápida entre a gerência do resort, a prefeitura, os ocupantes da cabana e o cacique deles (da aldeia da Mata Medonha). Também não passa desapercebida a rivalidade mal disfarçada entre os vendedores de artesanato que não são índios, e que reclamam de sua praia ter sido invadida pelos vendedores ambulantes de bijuterias (índios).
Esse é um aspecto da convivência brancos e índios por aqui. Falei branco, mas aqui na Bahia isto significa todo o espectro entre o preto e o branco. O conselho que escuto é que não devemos criar problema algum com índios “porque toda a aldeia vem junto” e isto pode significar (inclusive) ameaças à integridade física. Como no distrito de Santo André não há aldeia, não temos quase contato. Aqui a gente conhece bem é o Seu Zelito, que já foi cacique, e entende pra caramba de ervas medicinais e das árvores nativas daqui (sabe o nome de todas), tem prosa fácil e é benquisto pelos habitantes da povoação.
Outro aspecto absolutamente distinto é o que a gente pensa e sente quando presencia as cerimônias e rituais indígenas – recentemente tive oportunidade de presenciar dois, um na Fazenda São Vento, do Giampi e Loredana, e outro durante o V Festival Cultural de Verão de Santo André, que acabou de terminar. É inegável que estas cerimônias e a visão daquele povo vorazmente brasileiro, tem pano de fundo sentimental do tipo alguma coisa acontece no meu coração.
São danças, são cantos, são bentos.
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Eu ia mesmo era falar sobre as tardes de Itapoã que estão fazendo aqui no extremo sul da Bahia, mas me distraí. Pois bem, passado o auê do réveillon, continuamos em alta temporada e pela praia se espalham as gentes suficientes para não nos sentirmos sozinhos e isolados... mas sem muvuca.
Ao contrário do que se falava antes, Santo André continua um destino exclusivo, em muitos sentidos.

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