sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Chinatown em São Paulo

O dia hoje estava bem paulistano, garoento, gelado e soturno em pleno outubro. Mais cedo caminhamos apressados até a entrada do metrô da Vila Mariana: só precisávamos passar cinco estações da linha azul para chegar na Liberdade e desembarcar no burburinho da Praça Carlos Gomes. Íamos almoçar num restaurante japonês na Rua da Glória, mas o brilho das lâmpadas vindo da sala de um restaurante chinês nos fez mudar de idéia.
Que lugar! A decoração ofuscante – dourado Chanel – as garçonetes que só falam mandarim, o cardápio (olhem os pratos):
Leite frito
Folha de batata doce
Ostra assada com touci
Tilápia, carpa, pirâmide de siri
Siri com ovo salgado
Capim a vapor e Capim com dois tipos
Nira com salsicha chinesa
Len-gum misto
Nira com Lula
Mifun a moda Cingapura
Carneiro cozido com nata de soja
Agrião chinês com alho
Pepino amargo com daosi
Pipero do mar cozido (seja lá o que for, é caríssimo, 150 reais!)


Pedi um prato de carne com acelga e macarrão fininho (mifun), veio tudo certo menos o porco. Foi bem difícil me fazer entender, chequei ao ridículo de mugir (baixinho) para explicar que queria carne de boi. Teria sido mais fácil apontar para o prato da mesa grande e cheia de chineses bem ao nosso lado. Curioso, todas as mesas eram grandes – com aquela parte giratória no meio onde se coloca a comida – e estavam cheias, rodeadas de famílias numerosas. Acho que essa conversa que chinês só pode ter um filho é balela. A garçonete nos colocou na mesma mesa do único solitário: acho que juntou as minorias. O prato dele também veio trocado -- uma sopa de macarrão largo que deveria ter vindo sem camarão. Não comi quase nada, acho que não soube fazer o pedido certo, mas acabei protestando, afinal aqui neste País a única língua oficial é o Português. Quando contei o caso para o meu filho, pelo celular, estava dentro de um loja que vende artigos japoneses. Ao desligar, um senhor se aproximou e me disse enfaticamente que ele conhece esse restaurante chinês e que as moças sabem sim falar nossa língua.
Altíssima interatividade.
De qualquer maneira me diverti à beça, só fiquei com fome.
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E como é um restaurante famoso foi fácil achar outro post sobre ele, do Marcelo Katsuki , editor de arte da Folha Online (sintetizado)
“Na primeira vez em que fui ao Chi Fu, meu acompanhante notou algo na tigela e pediu para trocar. A atendente olhou, passou rapidamente o dedo para limpar e colocou de volta. Meu amigo se levantou e bateu em retirada. Agradeci a atenção e saí correndo atrás, com o casaco dele na mão. Mas passando pela porta recentemente, pude ver uma concentrada família chinesa limpando verduras em mesas improvisadas na calçada. Ueba! Sempre ouvi falarem maravilhas desse lugar, preciso conhecer e vai ser logo. Liguei correndo para meu amigo (...). Dessa vez o atendimento foi correto. Me antecipei em examinar nossos pratos e tigelas a fim de evitar outra fuga inesperada, mas estava tudo limpo. A atendente veio logo com os cardápios perguntando o que iríamos beber. Pedi uma bebida forte e típica e fui apresentado ao "sakê chinês", que de tão alcoólico, desceu queimando pela garganta até explodir no peito, deixando um forte sabor de arroz fermentado na boca. Pedimos os pratos e ficamos observando à volta. Na falta de conhecimento da maioria deles, fui algumas vezes até o fundo do salão para poder observar o que as famílias chinesas comiam e "raptar" alguns odores. Quando chegou o primeiro prato, "Mifun à moda Cingapura" fomos avisados ser um macarrão picante (...) Era um dragão chinês, com os olhos vermelhos e a boca aberta ...”

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