O Rede Furada completou 40 mil visitas enquanto eu dormia e agora que já nem lembro exatamente porque resolvi experimentar juntar texto e imagem numa revistinha digital feita em casa? Li variados posts em outros blogs no tema “porque escrevo aqui” e na falta de idéia clara voltei ao início (5 de março de 2008) para rever o primeiro post. Achei um poema de Ruy Proença chamado Tiranias que por sinistra coincidência poderia ser colocado hoje, numa sintonia maligna com a tragédia do Haiti. Lembro agora com parca nitidez de um livro que li anos atrás, chamado “Os comediantes”, um misto de ficção e realidade que o escritor inglês Grahan Greene escreveu mostrando o terror instaurado na época da ditadura do médico François Duvalier (cognome “Papa Doc”), o sanguinário tirano que esteve no poder de 1957 até 1971 e é, seguramente, a figura mais famosa e detestável daquele país.
“Antigamente
diziam: cuidado,
as paredes têm ouvidos
então
falávamos baixo
nos policiávamos
hoje
as coisas mudaram
os ouvidos têm paredes
de nada
adianta
gritar "
O médico-e-monstro (pobre Hipócrates) foi excomungado pela Igreja de Roma devido a sua ligação com o vodu, uma espécie de umbanda do mal, geralmente representada por aqueles bonequinhos de pano sendo sadicamente perfurados por agulhas, notadamente no coração ou na cabeça.
Pois esta farsa de médico, o Papa Doc criou para si próprio uma milícia, uma polícia secreta que tragicamente se tornou célebre e que respondia pelo codinome de Tonton Macoutes, que quer dizer bicho-papão. Compunham um fétido tableaux noir, um bloco de homens negros que se trajava em dark absolut: ternos escuros, gravatas pretas, óculos escuros impenetráveis e redondos (uma novidade, na época). Uma variação de FBI na modalidade caribenha, desta espécie de gente que gosta de se aliar com a crueldade e com o mistério. Pois não é que a personalidade e o visual tontou-macoute tornou-se cult? Pode-se até arriscar o palpite de que o mundo só tomou conhecimento da existência do Haiti por causa do fascínio macabro do regime duvaliano. Foi nessa época que o escritor inglês Graham Greene esteve em Port-Au Prince onde se inspirou para escrever o livro que citei, ironicamente intitulado Os Comediantes ,enquanto discorre sobre drama e terror político. O Papa Doc teve um filho, seu sucessor, uma figura estranhíssima, obeso e preguiçoso, de certa indefinição sexual, apelidado com perfeição pela imprensa internacional de Baby Doc. Ele foi deposto e fugiu para a Riviera Francesa aonde talvez viva até hoje comendo foie gras com brioches e lavando os copos com chateaux lafites e rothschildes às custas da dinheirama roubada por seu pai e por ele mesmo.
Mas voltando aos posts iniciais, o de 8 de março de 2008 era sobre uma mulher de nome Rindy que foi ver uma exposição do pintor americano Cy Twombly e ao chegar na galeria ou museu resolveu aprontar: apoiando as mãos na parede conseguiu beijar uma pintura consagrada a Fedro, uma imagem toda branca, e ela usando um batom vermelhidão-carmim, o resultado foi a boca impressa no quadro totalmente branco, parte de um tríptico avaliado em dois milhões de euros. A única pessoa que estava na sala era seu namorado que folheava, distraído, o catálogo da exposição. Além da câmera de segurança, claro, que monitorava e gravava tudo. Rindy acabou nos Anais do Crime do MySpace, foi lá que li esta estória.
No dia 15 do mesmo março de 2008, coloquei a primeira postagem da modalidade “Moradores de Santo André”. Olhei a foto, reconheci Tiago, nosso vizinho e jovem amigo, companheiro de pesca de meu marido, além de Paulinho filho de Maria de Valdivino, aquele que tem a segunda mercearia (em tamanho) da Vila, a “Mercearia do Bispo” , fica em frente a um visual maneiríssimo e tem sempre uma rodinha de conversa na porta. A “Bispo” vende poucos, mas vitais artigos de sobrevivência, cigarro picado e algumas raízes ou tomates.
Nos dez dias seguintes surgem a literatura de Osman Lins e o cinema, um postinho mixo para a fita Juno, outro para arquitetura. Ainda achei outra coincidência, uma foto de meu genro e meu neto – os mesminhos da foto que coloquei há apenas 2 dias.
Se não o motivo, pelo menos encontrei, nesta brevíssima viagem no tempo, temas que continuam me sendo caros: cinema, pintura, arquitetura, Santo André, família, viagem, entretenimento, o pop...
diziam: cuidado,
as paredes têm ouvidos
então
falávamos baixo
nos policiávamos
hoje
as coisas mudaram
os ouvidos têm paredes
de nada
adianta
gritar "
O médico-e-monstro (pobre Hipócrates) foi excomungado pela Igreja de Roma devido a sua ligação com o vodu, uma espécie de umbanda do mal, geralmente representada por aqueles bonequinhos de pano sendo sadicamente perfurados por agulhas, notadamente no coração ou na cabeça.
Pois esta farsa de médico, o Papa Doc criou para si próprio uma milícia, uma polícia secreta que tragicamente se tornou célebre e que respondia pelo codinome de Tonton Macoutes, que quer dizer bicho-papão. Compunham um fétido tableaux noir, um bloco de homens negros que se trajava em dark absolut: ternos escuros, gravatas pretas, óculos escuros impenetráveis e redondos (uma novidade, na época). Uma variação de FBI na modalidade caribenha, desta espécie de gente que gosta de se aliar com a crueldade e com o mistério. Pois não é que a personalidade e o visual tontou-macoute tornou-se cult? Pode-se até arriscar o palpite de que o mundo só tomou conhecimento da existência do Haiti por causa do fascínio macabro do regime duvaliano. Foi nessa época que o escritor inglês Graham Greene esteve em Port-Au Prince onde se inspirou para escrever o livro que citei, ironicamente intitulado Os Comediantes ,enquanto discorre sobre drama e terror político. O Papa Doc teve um filho, seu sucessor, uma figura estranhíssima, obeso e preguiçoso, de certa indefinição sexual, apelidado com perfeição pela imprensa internacional de Baby Doc. Ele foi deposto e fugiu para a Riviera Francesa aonde talvez viva até hoje comendo foie gras com brioches e lavando os copos com chateaux lafites e rothschildes às custas da dinheirama roubada por seu pai e por ele mesmo.
Mas voltando aos posts iniciais, o de 8 de março de 2008 era sobre uma mulher de nome Rindy que foi ver uma exposição do pintor americano Cy Twombly e ao chegar na galeria ou museu resolveu aprontar: apoiando as mãos na parede conseguiu beijar uma pintura consagrada a Fedro, uma imagem toda branca, e ela usando um batom vermelhidão-carmim, o resultado foi a boca impressa no quadro totalmente branco, parte de um tríptico avaliado em dois milhões de euros. A única pessoa que estava na sala era seu namorado que folheava, distraído, o catálogo da exposição. Além da câmera de segurança, claro, que monitorava e gravava tudo. Rindy acabou nos Anais do Crime do MySpace, foi lá que li esta estória.
No dia 15 do mesmo março de 2008, coloquei a primeira postagem da modalidade “Moradores de Santo André”. Olhei a foto, reconheci Tiago, nosso vizinho e jovem amigo, companheiro de pesca de meu marido, além de Paulinho filho de Maria de Valdivino, aquele que tem a segunda mercearia (em tamanho) da Vila, a “Mercearia do Bispo” , fica em frente a um visual maneiríssimo e tem sempre uma rodinha de conversa na porta. A “Bispo” vende poucos, mas vitais artigos de sobrevivência, cigarro picado e algumas raízes ou tomates.
Nos dez dias seguintes surgem a literatura de Osman Lins e o cinema, um postinho mixo para a fita Juno, outro para arquitetura. Ainda achei outra coincidência, uma foto de meu genro e meu neto – os mesminhos da foto que coloquei há apenas 2 dias.
Se não o motivo, pelo menos encontrei, nesta brevíssima viagem no tempo, temas que continuam me sendo caros: cinema, pintura, arquitetura, Santo André, família, viagem, entretenimento, o pop...
3 comentários:
40 mil não é nada para quem tem tando para informar e postar, com tanta simplicidade, sabedoria ludica colocando para navegadores virtuais conhecimentos que acresceta e muitas vezes a beleza e tanta que lava a nossa alma
Reg, suas palavras são cheias de estímulo e muuuito gentis.
obrigada, amiga!
Realmente 40 mil não é nada conforme disse a sua outra leitora comparados à riqueza do conteúdo do seu blog tanto para os nativos de St. André quanto para os seus leitores.
É muito bom ver em seu blog além das notícias locais, notícias interessantes de todas as partes do mundo, poemas, contos e suas divagações tão inteligentes como sempre.
É engraçado que desde adolescente era sua fã e esse nosso reencontro (mesmo sendo virtual) floresceu novamente minha admiração por você.
Para mim foi um grata surpresa reencontrá-la e saber que você apesar de morar num local paradisíaco, distante e de poucos recursos, conseguiu com seu blog (de nome tão criativo)encurtar todas as distâncias tanto em KM como em cultura.
Com seu blog ao mesmo tempo em que você passa para os leitores a magia e a simplicidade de St. André, você consegue mostrar que mesmo num lugar distante e com pessoas nativas e de pouca instrução o local tem seu lado cultural, mágico... que tanto os moradores, quanto pessoas como você e o Claudio (que se aposentaram e procuraram um local calmo para viver) e os estrangeiros (que também encontraram não só o paraíso, mas aliado ao paraíso, sua fonte de renda)tem o mesmo objetivo...preservar St. André e sua cultura.
Parabéns pelo seu blog e por ser essa pessoa especial.
Bjos,
Alessandra
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