terça-feira, 20 de outubro de 2009

Bilhete de identidade

Dia do poeta Darwich

Mahmud Darwich nasceu em Al-Birwa, uma aldeia da Galileia em 1941 e morreu em Houston (EUA), em 2008. Sua poesia ultrapassou as fronteiras da geografia e tornou-se conhecida em todo o mundo árabe, que lhe conhece os versos e os recita de cor.
Darwish ganhou notoriedade nos anos 60, com a publicação de seu poema "Bilhete de Identidade". Escrito em primeira pessoa, o poema conta o momento em que um árabe fornece os números de seu documento em uma barreira israelense, na tentativa de retornar à sua terra.


Bilhete de Identidade
Mahmoud Darwich

Toma nota!
Sou árabe
O número do meu bilhete de identidade: cinquenta mil
Número de filhos: oito
E o nono... chegará depois do verão!
Será que ficas irritado?
Toma nota!
Sou árabe
Trabalho numa pedreira com os meus companheiros de fadiga
E tenho oito filhos
O seu pedaço de pão
As suas roupas, os seus cadernos
Arranco-os dos rochedos...
E não venho mendigar à tua porta
Nem me encolho no átrio do teu palácio.
Será que ficas irritado?
Toma nota!
Sou árabe
Sou o meu nome próprio - sem apelido
Infinitamente paciente num país onde todos
Vivem sobre as brasas da raiva.
As minhas raízes...
Foram lançadas antes do nascimento do tempo
Antes da efusão do que é duradouro
Antes do cipreste e da oliveira
Antes da eclosão da erva
O meu pai... é de uma família de lavradores
Nada tem a ver com as pessoas notáveis
O meu avô era camponês - um ser
Sem valor - nem ascendência.
A minha casa, uma cabana de guarda
Feita de troncos e ramos
Eis o que eu sou - Agrada-te?
Sou o meu nome próprio - sem apelido!
(...)
... Então
Toma nota!
Ao alto da primeira página
Eu não odeio os homens
E não ataco ninguém mas
Se tiver fome
Comerei a carne de quem violou os meus direitos
Cuidado! Cuidado
Com a minha fome e com a minha raiva!




Um comentário:

piero eyben disse...

o pomar, poema
é alvo
âmbar, acre-doce,
idêntico
de si:
mahmoud,
habitando o jardim
de aléias -
estanco sempre
a nódoa do
nome.