domingo, 14 de junho de 2009

Osman Lins Avalovara



O domingo chegou inesperadamente. Parece que as semanas encolhem à medida que a idade avança, como se os dias estivessem saltando trêfegos para fora do calendário. Passo em revista a fileira de atividades à procura das infiltrações por onde escorrem os dias que se vão sem deixar herança de horas-extras nem minutos intermináveis.
Fomos todos deserdados por Cronos e só nos resta permanecer afobados, interminavelmente, neste mal estar da efemeridade permanente.
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Trago da literatura – esse mundo apaixonante onde caminho às cegas, movida apenas pelo gosto e pelo sentimento – um trecho de Osman Lins, em Avalovara:
“Os relógios, escreve Julius têm estreita ligação com o mundo e o que representam ultrapassa largamente a sua utilidade. Desde a origem, opõem ao eterno o transitório e tentam ser espelho das estrelas. Mais ainda: exprimem em números simples – tão simples que, ingenuamente, julgamos compreendê-los – o ritmo impresso desde a origem à marcha solene e delicada dos astros. Vede os relógios de Sol. Pode-se, após alguma reflexão, continuar a crer que Anaximandro de Mileto, quando fabrica quadrantes, quer apenas facilitar a divisão do dia em horas? O que ele pretende é converter a luz solar, seu giro harmonioso, numa flor geométrica que feneça ao anoitecer.”
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comentário de Piero Eyben:
"um relógio e
o devorar
do pai ao
filho, podendo
ser um goya
terrível: metade
de tudo.

julius poderia
ter pensado em
heráclito ou
em zenão - no
fundo toda mobi-
lidade é também
imóvel - mas não
pensou em ser
mais físico,
marcando-nos
com a técnica:
impõem-se os
DIAS."
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Que presentes, os comentários de Piero.
obrigada!

Um comentário:

piero eyben disse...

um relógio e
o devorar
do pai ao
filho, podendo
ser um goya
terrível: metade
de tudo.

julius poderia
ter pensado em
heráclito ou
em zenão - no
fundo toda mobi-
lidade é também
imóvel - mas não
pensou em ser
mais físico,
marcando-nos
com a técnica:
impõem-se os
DIAS.