segunda-feira, 29 de junho de 2009

Vida de pescador (2)




Mas como eu dizia antes, quando o marcador de combustível do barco encostou no zero e a praia de tão distante nem se via, os pescadores afogados naquela maré de azar pediram socorro pelo rádio – Save Our Souls . A cavalaria veio veloz: chegou em forma de fragata para tirá-los daquela canoa-furada. Uma linda, majestosa nau, ancorou nas cercanias do àquela-altura-humilde-Bacana : da barriga da baleia surgiu uma lancha apressada (uma espécie de cavalo de Tróia) contendo 5 Jonas armados com fuzis e me-tra-lha-do-ras de verdade, do tipo ratátátá.
Dois homens abordaram o Bacana; os demais ficaram dentro da lancha circundando o barco, sempre em posição de batalha naval. Vagarosamente, as autoridades marinheiras fiscalizaram tudo: a papelada, a parte mais íntima do barco – onde fica o motor e as engrenagens – e o material de salvatagem. Deram por falta da buzina – buzinar é preciso –, ao que Cláudio contrapôs tem o sino. Aceitaram o sino; afinal, consta do regulamento e funciona no manual.
Porque tanta ostentação de força? Metralhadora?
Eles não sabem com quem vão se deparar: inocentes pescadores ou piratas do mar.

A galera desta onda era formada pelo dono do barco, o comandante Calmon – um homem pacato e de bons ventos – o Elielton, pescador de mão cheia e arrastador de camarão; Emanuel de Ana Gaivota, primeira vez no alto mar (fraquinho de tanto vomitar); Zaqueu, um jovem nativo e Seu Neneco, o marido de Gilma.
Pediram para ver os pescados, àquela altura, todos marcados para distinguir quem pegou dourado e quem pegou guaiúba: é como se fosse a ferradura do dono: cortam o lado esquerdo ou direito do rabo, ou rasgam o nariz, ou furam o olho. Peixe sofre até depois de morto. O oficial ao mirante decidiu assim: Cláudio ficaria como fiel depositário dos peixes – agora pertencentes ao IBAMA devido à falta de licença para pescar e não adiantou explicar que há meses fora pedida só não estava na mão dele por causa da burocracia.
Houve a notificação: uma multa chamada de pane seca, não se sabe quanto vai custar.
Com o óleo diesel doado, voltaram para casa, processo que levou muitas horas marítimas. Cada um pegou seu quinhão pesqueiro menos o Cláudio que resolveu doar para os mais carentes do povoado, pensando em pagar a multa e ver o assunto encerrado.
Agora, já no final desta postagem, o telefone tocou e pela voz do homem daqui de casa percebi que o do outro lado da linha é do IBAMA. Vem mais água por aí.

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