sexta-feira, 26 de junho de 2009

Carta para uma amiga


Cara amiga:

Depois que correu os olhos pelas fotos do blog você quis ter notícias mais miudinhas do povo e do povoado. Será saudade? Passei ontem no seu Facebook para uma mensagem de 140 toques – dei uma espiada ao redor logo vi o menininho de olhar esperto. É o sobrinho francês? Ah! Aproveitando a conversa sobre a internet, se na sua caixa postal surgir convite no meu nome vindo do Tweeter simplesmente delete. Eu acessei porque todo o mundo virtual estava falando nisso. Em outra ocasião navegante entrei para olhar com vagar e fui seduzida até o ato da inscrição – entreguei a carteira de identidade, dei senha, meu email, tudo de uso corrente. Quando a permissão apareceu na tela passei um bilhete para minha afilhada de Brasília para testar e ela me respondeu. Foi só. Depois de alguns dias o programa do Tweeter disparou mensagem automática para todos os meus contatos.
São muito independentes, esses softwares.
Na última terça-feira houve uma grande festa de aniversário para o Seu João Capador – você teria gostado tanto! Foi bem perto do local onde você festejou seus próprios cumpleanos no pós-verão deste ano. As pessoas organizaram um festival de atrações com atrevidas piruetas dos meninos e rapazes da capoeira, com a algazarra do pé duro, com o livro que o Leonardo (nosso professor de yoga e padeiro) escreveu contando a estória das ervas do Seu João – que obviamente se chama assim porque nasceu no dia da quadrilha -- pelo bolo tipo de noiva rodeado de meninos e arabescos torcidos de azul doce nas bordas. Mas a cereja do bolo era ver os moradores do lugar, veio tanta gente, os das roças e os de outros lugares, o novo e o envergado e ainda foi possível conversar de música porque colocaram discos alegres de Luís Gonzaga, o Carlos Gardel do forró.
Sabe que ultimamente tem rolado uma transação de terra? A ponta do Mafuá foi vendida – aquela parte do terreno que é mais larga – para uma pessoa que trabalha com cinema, uma produtora – será que finalmente seremos franquia de Cinecittà? Porque aqui preferimos os filmes italianos aos americanos ainda não descobri. Anotei o nome do diretor coreano que você mencionou se me deparo com ele está decidido: vejo. Hoje vamos passar um filme chamado do Outro Lado onde se conhece um pai viúvo, uma prostituta, o filho do viúvo e a filha da puta. Ganhou o prêmio de melhor roteiro no festival de Cannes em 2007. A temática é esta de um mundo sem fronteiras, afinal, qual é a nacionalidade de um rapaz nascido de pais imigrantes turcos na Alemanha que se torna professor de literatura alemã?
Na quarta-feira houve outro evento delicioso: foi apresentado via Cine Cajueiro o primeiro telejornal produzido por adolescentes que participam da radioweb do IASA. O grupo se apresentou completo: cinegrafista, roteirista, repórteres, editor – eles conseguiram! Mal podia crer nos meus olhos: provavelmente vários desses rapazes e moças ainda não têm computador em casa.
(no meio da carta toca o telefone: era a voz do Cláudio -- numa ligação entrecortada compreendo que acabou o combustível zero zero nem uma gota e eles no meio do mar quatro homens, um motor calado e um barco à deriva ai de mim SOS o rádio! falaram no rádio e quem escutou foi um barco da Marinha brasileira um encouraçado, quiçá um Potekim).
Parou ao lado do saveiro: os nautas, estupefatos. Disse-me ele: acho que se as sereias de rabo e peitos tivessem aparecido ali o susto seria menor (e por certo, melhor). Abriram um alçapão, imagino, não deu para perguntar os detalhes, só sei que veio uma lancha cheia de soldados pra cima deles e fiscalizaram tudo, a Marinha e o IBAMA. Cláudio tem carteira oficial de pescador mas como não tinha o outro certificado, a licença para pescar, levaram todos os peixes pescados -- em troca o combustível para chegar na praia.
E agora acho que vou terminar esta cartinha porque fiquei sem concentração. Quando você puder, me escreve.

2 comentários:

m.Jo. disse...

Sempre tem novidade em Santo André. Cidades grandes não são assim. Os dias são quase todos iguais, a gente nem presta muita atenção.
Lendo seu post me senti a própria Carolina, sem ver o tempo passando na janela.

olimpia disse...

Esse seu comentário me fez pensar, m.Jo... bem, ainda estou me acostumando em viver num lugarejo onde as coisas mais banais repercutem no nosso cotidiano.