sexta-feira, 26 de junho de 2009

A elegância do ouriço



Trecho de "A elegância do ouriço", de Muriel Barbery, com mais de 850 exemplares vendidos na França. A estória se passa num prédio de apartamentos de luxo em Paris. Os personagens principais são uma zeladora de meia-idade, culta e desconfiada, uma adolescente pensativa e cheia de birra, um senhor japonês misterioso... Um delicioso romance filosófico!
No excerto abaixo, a voz da adolescente
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"No sábado passado fomos a um restaurante assim, muito chique, o Napoléon’s Bar. Era um programa familiar, para festejar o aniversário de Colombe. Que escolheu os pratos com a mesma graça costumeira: uns trecos pretensiosos com umas castanhas, um cordeiro com ervas de nome impronunciável, um zabaione ao Grand Marnier (o cúmulo do horror). O zabaione é o emblema da cozinha francesa: um troço que pretende ser leve e sufoca o primeiro cristo que aparece. Não comi nada de entrada e depois comi sessenta e três euros de filés de vermelho ao curry (com cubos crocantes de abobrinhas e cenouras debaixo do peixe) e depois, por trinta e quatro euros, o que encontrei de menos ruim no cardápio: um fondant de chocolate amargo. Vou llhes dizer: por esse preço eu preferira uma assinatura anual no McDonald’s. Pelo menos é sem pretensão no mau gosto. E nem falo da decoração do restaurante e da mesa. Quando os franceses querem se diferenciar da tradição “império” das tapeçarias bordô e douradas à vontade, caem no estilo hospital. A gente senta em cadeiras Le Corbusier (“de Corbu”, diz mamãe), come em louça branca de formas geométricas muito burocracia soviética e enxuga as mãos no toalete com toalhas tão finas que não absorvem nada.
A simplicidade não é isso. Nos mangás, os personagens parecem comer outras coisas. Tudo de um jeito simples, requintado, comedido, delicioso. Come-se com quem olha um belo quadro ou como quem canta num coral. Não é demais nem de menos: comedido, no bom sentido da palavra. Talvez eu me engane redondamente, mas a cozinha francesa parece velha e pretensiosa, ao passo que a cozinha japonesa parece... pois é, nem jovem, nem velha. Eterna e divina."

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