domingo, 4 de abril de 2010

quem tem medo de morrer


Aquela maçãzinha que mordemos no jardim do paraíso está entalada no meio da nossa garganta até hoje. Por causa dela adquirimos o conhecimento, e imediatamente nos tornamos capazes de compreender que a extinção de qualquer um, inclusive a nossa, está logo ali na frente e não tem deus nem demônio capaz de evitá-la.
Isso dá um medo...! Aí o que é que a gente faz? O mais comum é abraçar a fé. Difícil é fazer opção, porque desde que o mundo é mundo centenas de religiões e credos e cultos foram criados, tanto templo tanta igreja foi erigida, que se juntássemos todas num só território daria para formar uma ou duas imensas nações de sinos ou minaretes. Poderosíssimas. Como todo mundo quer salvação, e ninguém quer parar de ser (detestamos o não ser), a idéia de outra vida seguindo-se a esta é, naturalmente, um bálsamo. A maioria das religiões prometem-nos a vida eterna e a possibilidade de reencontrar nossos amados dos quais a existência terrestre vai nos afastar. Diferentemente dos outros animais, somos os únicos que temos consciência da finitude.
Acho que a fé é basicamente isso, uma tábua de salvação.
E a morte não é tão simples. Edgar Allan Poe, ilustra esta idéia da irreversibilidade naquele celéberrimo poema do corvo, aquele ave sinistra que só sabia dizer "nunca mais". Quis dizer com isso, penso, que na realidade tudo pertence à categoria do "nunca mais." Pode ser as férias da infância, os amigos afastados, uma casa que se perdeu, uma lembrança qualquer... Respeito as religiões e as crenças individuais, mas não creio que seja o único caminho para se lidar com este dilema humano.
A filosofia pode ser outro, para quem não quer abrir mão de pensar com a própria razão.

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