sábado, 13 de março de 2010

problemas com a Alfândega



Como é de conhecimento até do mundo mineral, em qualquer viagem para a cidade de São Paulo, a parte mais lenta e desconfortável do vôo é o trajeto terrestre, especialmente para quem desembarca no aeroporto de Guarulhos e decide prosseguir até Congonhas no ônibus da companhia aérea que o trouxe até a capital do Brasil ($$$) e até porque é de graça. No compasso da demora, realçada pela falta de graça da paisagem, alguns passageiros procuram algo para se distrair durante o percurso (no mínimo 45 minutos e máxima de três horas e 20 minutos, na minha série histórica). Os aparelhinhos eletrônicos ocupam as mãos e as mentes dos viajantes, a escolha é fértil entre computadores leves, emepetrês, celulares (o predileto). Naquele confinado mundinho rodante, é impossível deixar de ouvir a conversa alheia. Em dezembro foram cenas de um casamento, o que se passava entre o homem sentado na poltrona atrás de mim falando ao celular com a mulher dele, parecia novela. Anteontem, o caso era diferente e incontornável porque o sujeito falava muito, muito alto. Tratava-se de uma mala, uma mala enorme, pesadíssima. A mala iria permanecer na conversa durante uns trinta minutos, o tempo que durou a conversação com a mulher desconhecida por nós. Dava para ouvir a voz dela do outro lado da linha e distinguir uma palavra ou outra. Era um timbre fresco, assim como quem acaba de acordar. Um detalhe surpreendente, porque Perpétua – o homem sempre começava dizendo, mas, Perpétua – estava com uma batata quente na mão. A mala de Perpétua chamara a atenção do funcionário da Alfândega naquela hora do você tem algo a declarar, isto entendemos rapidamente. Acompanhamos a retirada da mala da esteira mentalmente e deu para imaginar muito bem a cara de espanto do funcionário quando tentou levantar a mala usando só uma mão. A mala foi levada para outra sala, mais reservada, escondida entre os corredores internos do aeroporto. O narrador da estória era nosso vizinho do ônibus, quem estava com a mala complicada era um funcionário ou parente de Perpétua, enviado para o exterior com a incumbência de trazer a mala cheia de muamba. Quiseram pagar os impostos. O cara da Alfândega não deixou, vai pra leilão, você não declarou. Perpétua queria que nosso companheiro de ônibus resolvesse o problema dela. A resposta foi um lacônico a mala já era, Perpétua. Adorei.
(fotos do saguão do aeroporto e Cláudio visto da sacada de Congonhas)

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