sexta-feira, 19 de março de 2010

a poesia do cotidiano

"Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Nem ama duas vezes a mesma mulher.
Deus, de onde tudo deriva
É a circulação e o movimento infinito.

Ainda não estamos habituados com o mundo
Nascer é muito comprido."

poema de Murilo Mendes
quadro de Magrite


"Quando você passa três, quatro dias desaparecida
Subo desço, desço subo escadas
Apago acendo a luz do quarto
Fecho abro janelas sobre a Guanabara
Já não penso mais em nada
Meu olhar vara vasculha a madrugada
Anjo exterminado"

(Waly Salomão, letra da canção Anjo Exterminado)
Quadro: À janela, de Pierre Bonnard


"Os cacos da vida, colados, formam uma estranha xícara.
Sem uso,
ela nos espia no aparador."

poema de Carlos Drummond de Andrade
quadro "Natureza morta com limões e xícara", de
Renoir. Acervo da Fundação Ema Klabin, São Paulo.
------------------------------------
(esse post começou assim... mas acabou tomando outros rumos)
Uma maneira de testar a qualidade de um livro (ou de um filme) é sabermos de antemão o seu enredo. Como nas tragédias gregas, por exemplo. Sabendo como vai terminar a estória podemos nos concentrar mais nas fascinantes e variadas complexidades que o texto apresenta, sem a pressa de chegar ao final.

Um comentário:

piero eyben disse...

de sonho, já comprido -
um cumpridor de chávenas -
não prefiro o vasculhar,
vaso apenas a madrugada,
como a tela sonora de
buñuel:
calando cada um daqueles,
na sala.
à deriva, tudo circum-
lóquio. o rio habita
o corpo, como sua
guerra íntima.