segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Carta para uma amiga



Querida amiga:
Seus comentários são sempre tão bem-vindos! E você não é a primeira pessoa que me diz da dificuldade de colocar comentários no Rede Furada... Por sorte, tenho recebido tantos emails, com ótimos (e alentadores) comentários. O seu último gerou esta minha carta para você...
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Pelo que tenho observado esse negócio de gostar ou não de um determinado filme tem tanto a ver com nossa história pessoal como com a qualidade da fita.

Por isto acho normalíssimo uns gostarem, outros não, e seria tolice deixarmo-nos intimidar pela crítica “oficial”, ou pela opinião dos outros.

Quando assisti “Luz Silenciosa” pela primeira vez, encontrava-me na companhia de duas das melhores cabeças pensantes que conheço, ambas professoras em universidades renomadas pela excelência (USP e São Carlos): uma adorou, a outra queria sair antes de terminar.

Notei, pelos comentários que ouvi na saída do cinema, que a platéia também ficou dividida.

Meu filho, que está acostumado a ver “filmes de arte” detestou. Pudera! Almejar que um jovem de 20 anos, residente em São Paulo não se impaciente com a lentidão desse filme, é quase utópico: Reygadas faz Bergman parecer Felipe Massa.

Eis um ponto que por si só já vale ver o filme: traz uma inquietação, faz a gente parar um pouco, nem que seja por tédio ou sonolência induzida. O tempo, ou o correr do tempo, quase não sai da tela: é o alvorecer/ anoitecer, o relógio, as plantações da fazenda – ora verdejantes, ora secas – as diversas gerações de uma mesma família, cenas de estio, cenas brancas de neve...

Bom cinema mostra, não diz.

Pessoalmente, deixei-me encantar pela beleza das imagens: quantas cenas eu gostaria de colocar em molduras e pendurar nas paredes! Mas para mim, o ponto mais forte foi a dimensão espiritual, sentimento compartilhado com o Fê e a Sueli, descobrimos ontem, na festa do Stefano. Ficamos aliviados quando nos disseram que estavam discutindo o filme até aquele momento e que até gostariam de vê-lo de novo.

Chegamos à conclusão, em breve conversa, que a questão “será que Esther morreu ou não?”, não pode ter resposta lógica, só buscando transcender os fatos sensoriais e ingressando em dimensão espiritual, cada qual na sua medida.

Abaixo, trecho de outra crítica que encontrei em http://www.revistapaisa.com.br/maio08/luzsilenciosa.htm

“Com Luz Silenciosa, Reygadas filma uma comunidade alemã na região de Chihuahua, no norte do México, e retrata como a frieza típica do povo germânico contrasta com um ambiente cheio de coisas conflitantes, e outras condizentes com sua personalidade. Um ambiente caloroso, árido, conservador, familiar, religioso e absolutamente quieto. Durante boa parte do filme o que ouvimos são os sons da natureza, do belo alvorecer no início, das pequenas ondas na piscina natural onde se banha a família de Johan, silêncios de todos reunidos para o jantar, orando sob a batida imponente das horas e com os barulhos de animais ao longe"
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Seu convite é ótimo! Não fora o fato de que partiremos quarta-feira para mais uma temporada em nossa outra vila (a Vila Mariana, em São Paulo), com certeza iríamos. Na volta, for sure!




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