quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Mudança de ares

Cheguei aqui ontem, vinda do povoado para esta mega-cidade que também amo. Católica não praticante, adoro um santo, seja Santo André, seja São Paulo.

E gosto de viver entre extremos.

Senti no ar a primeira mudança brusca: ligaram o ar condicionado na cidade toda. Que frescura deliciosa! O vôo no horário certo, a sincronização perfeita ao chegar: mal apanhamos as malas no aeroporto de Guarulhos (cujo nome oficial é Aeroporto André Franco Montoro, mas ninguém chama assim), conseguimos embarcar no ônibus para Congonhas, bem mais próximo de nossa residência.

Assim, de uma hora para outra, saímos da Rua da Linha para a Vila Mariana.

Encontramos o apartamento limpo, graças à Ana, e uma pilha de correspondência. No meio das contas à pagar, uma delicadeza sem preço: um pacote de cartazes de cinema enviado pela Karla, essa jovem mulher que conheci menina e que agora trabalha no consulado americano daqui de sampa.

Toda vez que chego aqui a memória se embaralha com tantas recordações.

Hoje, escolhi esta, a do Edifício Copan, onde trabalhei numa agência de um banco que se chamava “Banco Lar Brasileiro”, depois virou Chase Manhattan, mais adiante foi comprado (associou-se?) com o J. P. Morgan e hoje formam, juntos, o maior banco do mundo.

Minha vida profissional passou-se nos bancos: acabei me aposentando no Banco Central, onde convivia o tempo todo com pessoas.... de outros bancos!

Não por acaso sou cliente agora do Banco “Só Ares” Marinho. Ajudo o gerente, que é meu marido.

Mas voltando ao COPAN, esta obra de Oscar Niemeyer que é um dos marcos da modernidade paulistana, próximo à Praça da Republica.
É uma linda, longa curva, na cidade saturada de ângulos retos.

Projetado para ser um complexo residencial, hoteleiro e de serviços (foi encomendado pela Companhia Panamericana de Hotéis e Turismo), Niemeyer idealizou um lugar onde pessoas de diferentes classes sociais e culturais pudessem conviver harmonicamente. Além dos apartamentos residenciais, deveria haver áreas de convivência, cinema, teatro, restaurantes e um hotel luxuoso.

Uma mini-utopia. Teria sido influência da criação de Brasília? (as obras foram concluídas em 1966, Brasília é de 1960). Mas o projeto original não foi levado adiante. A planta da obra passou para o Banco Nacional Imobiliário e para o Bradesco. O hotel e o teatro nunca saíram do papel e os apartamentos dos blocos E e F, que contariam com 3 dormitórios, foram transformados em quitenetes e apartamentos de 1 quarto.
Peculiaridades do Copan:
Uma das maiores estruturas de concreto armado do País: foram utilizados até 400 kg por metro cúbico. Só o cimento utilizado nas brise-soleil (lâminas horizontais que aparam os raios solares) seria suficiente para se construir um prédio de dez andares.
Estima-se que os apartamentos (1160) abriguem cerca de 5 mil moradores. A densidade demográfica é tanta que o Correio criou um CEP específico para o edifício: 01066-900.
O prédio tem 115 metros de altura e 120 mil metros quadrados de área construída.
Foi a configuração do terreno (uma faixa irregular entre a rua Araújo e a Vila Normanda, com frente para a avenida Ipiranga) que determinou a forma sinuosa do edifício: Niemeyer criou a forma mais bela possível de ser implantada naquele espaço. As passagens internas do Copan também são curvilíneas: esse tipo de desenho favorece a intimidade das pessoas com o prédio e enriquece a experiência do percurso.
Classificado como Z8-200 (imóvel tombado), o prédio foi construído no mesmo período em que ergueram o Edifício Itália, outro marco arquitetônico de São Paulo.
Nos anos 70, este enorme laboratório social foi apelidado de "formigueiro" e de "prédio dos descasados". Até hoje é palco de algumas lendas e já virou livro: Arca sem Noé, de Regina Rheda, inspirado nos vizinhos da autora.
O Copan já foi residência do dramaturgo Plínio Marcos e de Noêmia Mourão, viúva do pintor Di Cavalcanti.

O prédio tem duas inscrições no Guiness Book: uma por "maior área construída" e outra por "maior número de unidades".

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