sexta-feira, 7 de novembro de 2008

fazer o quê em São Paulo?

Ontem, segundo dia em São Paulo, saímos para passear, meu parceiro e eu. Com a conta do gás dentro da bolsa – o famigerado “atestado de residência” – fomos nos associar na melhor videoteca daqui, a 2001. Depois das outras formalidades, CPF e tal, sofremos da dificuldade de escolher dois filmes, dentro de um repertório estupendo. Finalmente conseguimos nos decidir por um filme francês (lançamento), com Daniel Auteil ( “Conversas com meu jardineiro”), e um clássico, “O leopardo”, de Luchino Visconti, ambientado na época da unificação italiana, uma das obras primas deste cineasta que é uma das minhas paixões eternas.

Com as fitas protegidas da garoa que caía intermitentemente e os guarda-chuvas negros comprados de última hora na lojinha da vizinha – aquele quadradinho minúsculo e milagroso que vende coisas de cozinha, brinquedos, revistas, chocolates, cartões para celular pré-pago, recargas de metrô, além de outras mil bugigangas úteis – atravessamos a Av. Paulista em direção aos Jardins, descemos pela Campinas até a Jaú para almoçar num restaurante japonês da região. Sempre ouvi dizer que os melhores restaurantes japoneses de São Paulo não ficam na Liberdade, então decidimos começar a explorar outros lugares sem ser àqueles caríssimos, porque nem sempre o bolso suporta as casas de Jun Sakamoto ou de Murakami. Entramos no Irori, cujo nome evoca uma tradição nipônica antiga de abrir um buraco, revesti-lo de barro e encher de lenha. Com o fogo aceso aí dentro a casa ficava quentinha e agradável e ainda servia para pendurar chaleiras e caldeiras numa corrente suspensa sobre essa abertura. Parece que o ritual ainda permanece ativo no interior do Japão. Aqui em sampa não tinha foguinho, tinha tatames, buffet, uma espécie de jardim com teto semi-transparente e muitos executivos jovens falando de trabalho o tempo todo.

Depois do almoço, voltamos à Paulista para ver um filme da nova safra de diretores italianos, chamado “Caos Calmo”, é dirigido por Antonello Grimaldi, com Nanni Moretti e a graça de uma ponta feita por Roman Polanski, já no final. A fita trata do tema do luto e não deixa de riscar um libelo anti-capitalista quando o protagonista, um executivo de alto padrão (tem duas casas belíssimas, previsível, em se tratando de italianos) deixa de ir ao escritório após a morte da esposa, e deseja trabalhar numa praça, dentro de seu Volvo, passa a comer o prato do dia do restaurante da esquina, a tratar dos negócios da empresa com os colegas que vão ao seu encontro no banco da praça... enfim, começa a viver em frente à escola de sua filha, uma menina de 10/12 anos, que de vez em quando aparece na janela para acenar a mão e sorrir para o dedicado pai.
O filme tem algum encanto, porém são tantas as coincidências, tanta ajuda do Destino que a verossimilhança (falo daquela interna ao filme, nada a ver com o "real") é abalada em dose fatal. Alfred Hitchcock dizia que a verossimilhança não importa quando se trata de thrillers, porque os filmes de suspense têm suas próprias leis, só que o talento de Grimaldi não é comparável ao do mestre inglês. Na saída, o expresso no café do cinema, naquele espaço underground do saudoso Gazetinha, o salto que a memória dá no tempo – vi uma foto mental de mim mesma, sentada na escadaria externa do Gazeta, com minha calça boca-de-sino, bolsa estilo inca e tiara de continhas coloridas colocadas sobre a testa para segurar um pouco a cabeleira ondulante à la Gal Costa, recém-chegada de um ano na Nova Inglaterra (EUA), esperançosa e estudando violentamente no cursinho do Objetivo, à época, o mais renomado in town, juntamente com o Anglo – ou será que era o Equipe? – batalhando pela vaga que consegui, meses depois, no curso de Ciências Sociais da USP.

Acho que me perdi, onde está mesmo o fio da meada? Este post afinal, era só para falar, depois de ler o post do blog dos outros aí embaixo ( a ordem saiu invertida porque me atrapalhei), que ainda vivo com o mesmo parceiro com que casei anos atrás, ainda estamos longe dos 70, ainda estamos deslumbrados com a aposentadoria – e por causa dela, ficamos juntos 24 horas a cada dia, há uns 8 ou 9 anos – e ainda chegamos em casa e conversamos até de madrugada, rindo e nos divertindo só nós dois.

E todos os nossos planos para hoje, de ver a Bienal, a exposição no Itaú Cultural Paulista – sobre cinema, artes plásticas e tecnologia – assistir o filme tão desejado dos irmãos Dardenne, aquele do Silêncio de Lorna – ou aquele outro, do Woody Allen, ( o Vicki, Barcelona), comer no restaurante coreano e todos os outros planos, parece que vão se resumir em ir à feira livre e à vidraçaria aqui do bairro, isso quando eu acordar de novo, porque morro de sono agora e vou voltar pra cama.

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