sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Casal em preto e branco


"Umas duas vezes por semana, costumo almoçar no shopping e de uns tempos para cá, venho observando um casal que sentam sempre à mesma mesa. É um casal de idosos. Ele, na faixa dos setenta, ela, quase lá. Bem conservados, distintos, elegantes.(...)
O que mais me chama atenção nesse par é que eles sentam, almoçam, terminam seus pratos em tempo desigual, mas não trocam palavra. A mulher olha tudo com a expressão de quem nada vê e não parece preocupada em disfarçar. Ele apenas come e bebe pausadamente.
Como escolhem mesas quadradas de quatro lugares, ficam em lados opostos, mas nunca frente a frente: ela passa uma cadeira e fica rente à meia parede. Ele, na ponta da passagem. Talvez porque as pernas dele sejam grandes e incomodem a mulher. Talvez porque isso faça parte do ritual de silêncio.
Entre garfadas, dou asas à imaginação e os vejo jovens namorados, ouço suas risadas, devem ter sido bonitos. Vejo-os depois de mãos dadas passeando com os filhos pequenos. Mais tarde, os filhos já crescidos, a vida assentada, sem grandes sobressaltos e a passagem dos anos até o presente. Em que ponto alguma coisa se partiu? Ou será que foi ruindo aos poucos, ano após ano? Porque um silêncio desses não nasce de um dia para o outro. Solidão assim é abismo que não se quer ou se pode transpor. E eles não parecem incomodados com isso. "
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Postado por Kenia Mello leitedecobra.blogspot.com/

2 comentários:

Dienifer disse...

eu amei oque você escreveu...

uma história linda e bem imaginada...

e na verdade eu acho
que com o tempo aquelas pessoas que não se amam de verdade,vão se distanciando...e agente nunca sabe se oque realmente sentimos é o amor...

afinal ele é tão mesterioso e dificíl de entender..

vai ver esse casal confundiu amor com paixão...
e por isso não sentem mais um pro outro
oque sentiram a muito tempo...

abraços de dieni..

Gilda Velloso disse...

Foto linda. Vc pensa como eu. Quando ando pelas ruas sózinha, tb imagino e observo muito as pessoas. Temos um certo saudosismo dos bons tempos, da paz e do sossego que hoje deixaram de existir, a nâo ser em nossas mentes. Abraços.