segunda-feira, 10 de maio de 2010

duas mães, duas luas

Por acaso ou por destino ontem me deparei pela primeira vez com a poesia de Georg Trakl. Fiquei sabendo que foi um grande poeta expressionista., que nasceu em Salzburgo e teve uma vida curta e conturbada. Consta que desde sua adolescência consumia doses nada moderadas de cocaína, ópio e veronal, o que acabaria por o matar em 1914, ao 27 anos.
Hoje de manhã quando soube que Dona Inácia havia falecido durante a madrugada, procurei pelo poeta, a quem peço emprestado dois versos para despedir-me desta vizinha que até ontem era a mulher mais velhinha de Santo André.
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"Duas luas
iluminam os olhos da anciã pétrea"
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Estive com Dona Inácia pela última vez no dia das mães de 2010. Passei para lhe tirar a pressão, a pedido de seu neto, Renilson. Já era noite, a casa dela estava cheia de pessoas da família e amigos. Ainda pude lhe passar a mão nos cabelos úmidos. Mais tarde, foi levada para o hospital que tanto temia. Agora está em casa, a pétrea anciã, e descansa.
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O dia das mães e a morte de Dona Inácia me fez recordar que não tive muita oportunidade de passar este dia com Maria, minha mãe. Saí cedo da casa dela; e ela, cedo da vida.
Suspendo por um momento minha incredulidade para mostrar a Maria a imagem de Klimt que recebi da neta dela, minha filha, e aproveito para avisá-la que ela agora tem vários bisnetos.
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"Pastores enterram o sol na floresta nua.
Um pescador puxou a lua
Do lago gelado em áspera rede."



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