Ontem à noite, depois do aniversário fomos para o Sant'Anas, o lugar ideal pra gente ver alguém conhecido (desconhecido também serve) na noite escura e parca de gente de Santo André na baixa. A festinha do Ian estivera animada, o que não falta no povoado é menino, bolo e brigadeiro; a gurizada fazia uma algazarra que ia ficando fraquinha à medida que a gente atravessava a pequenina ponte sobre o riacho que separa a casa de Gilvan da Rua da Linha. Dalquele ponto em diante, a gente prossegue no tato e no costume, dependendo da boa-vontade da iluminação, tem luz de poste que só acende quando lhe dá na telha. Como de hábito, entramos na Avenida pelo beco da igreja, àquela hora cheia de gente em prece. Notei que o Maré reabriu com visual repaginado: a iluminação está mais aconchegante, há cadeiras de metal prateado com encostos entrelaçados em frente ao balcão do bar, uma motocicleta amarela encostada num canto, (dá um toque de lanchonete retrô), vi quadros bonitinhos espalhados pelas paredes e, naturalmente, os quitutes da Carol. A gente estava de prosa com os amigos, instalados na nossa mesa predileta em frente ao rio, quando a primeira notícia chegou: havia um homem com arma de fogo no povoado. Entrou no Nelmo. Saiu. Nelmo cerrou portas e as janelas basculantes. Passaram umas mulheres em ritmo acelerado, puxando crianças pelo braço, os rostos apreensivos. Ficou tudo parado, menos o vento sul que continuava a pentear os cabelos do arvoredo miúdo.
A última versão dizia que o homem -- a arma agora mudara para um mero pedaço de pau -- batera na casa de uma moradora que fica perto da entrada da Vila. É um local meio isolado, mas a sorte é que ela também estava de aniversário, a casa cheia de amigos. O homem fugiu. Chamaram a polícia que até agora não apareceu. O desconhecido também não.
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