sábado, 1 de maio de 2010

À mesa com Marcel Proust

Estou cada vez mais apaixonada pelo escritor francês, Marcel Proust. Ainda no primeiro volume de sua obra "Em busca do tempo perdido" já penso em adquirir os volumes seguintes. São 7 ao todo. São gemas da vida que nos vão sendo dadas de presente à medida que as páginas vão passando. Reflexões metafísicas, filosóficas: grandes temas.
Impressionante o quanto este homem observou o jeito humano de ser. Destrincha a hipocrisia, a vaidade, a pretensão. Escrutina a alma, a ambição disfarçada. E descreve como ninguém a beleza da natureza -- eu amo passear pelos caminhos de Combray, as palavras dele funcionam como caleidoscópio, mil imagens.

E como fala bem sobre comida, dá um apetite imenso, olhem só este trecho do "Caminho de Swann"

"É que ao fundo permanente de ovos, de costeletas, de batatas, de compotas, de biscoitos, que nem sequer nos anunciava mais, Françoise acrescentava – de acordo com os trabalhos dos campos e pomares, o fruto da maré, as surpresas do comércio, as amabilidades dos vizinhos e seu próprio gênio inventivo, e de tal forma que nosso cardápio, como essas quatro-folhas que esculpiam no século XIII nos pórticos das catedrais, refletia um pouco o ritmo das estações e os episódios da vida – um rodovalho, porque a peixeira lhe garantira que estava fresco, um peru, porque descobrira um esplêndido no mercado de Roussainville-le-Pin, carnudas alcachofras da horta, porque ainda não no-las tinha preparado daquela maneira, uma perna de carneiro assada porque o ar livre faz um buraco no estômago e ia a passar muito tempo até descermos às sete horas, espinafres para variar, alperces porque eram ainda uma raridade, groselhas porque daí a quinze dias já não as haveria, framboesas que o senhor Swann trouxera de propósito, cerejas, as primeiras da cerejeira do jardim depois de dois anos em que não produzira nenhumas, queijo cremoso de que eu antes gostava muito, um bolo de amêndoas porque o encomendara na véspera, um brioche porque era a nossa vez de o oferecer. Quando aquilo tudo acabava, era-nos proposto, preparado expressamente para nós, mas dedicado em especial ao meu pai, que era amador, um creme de chocolate, uma inspiração, uma atenção pessoal da Françoise, fugidia e leve como uma obra de circunstância, na qual ela pusera todo o seu talento. Quem se recusasse a prová-lo dizendo: “Acabei, já não tenho fome”, seria imediatamente humilhado ao nível daqueles brutamontes que, até no presente que um artista lhes oferece de uma das suas obras, olham para o peso e para a matéria, quando o que vale é a intenção e a assinatura. Até deixar uma gota no prato seria uma prova da mesma indelicadeza que levantar-se antesSwann.




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