domingo, 23 de maio de 2010

Sonia Bonzi em Teerã


De vez em quando eu trago uma foto de Sonia Bonzi para o blog ou comento sobre as incontáveis viagens que já realizou. Acho que não conheço ninguém mais viajada do que ela, ou sua família. Isso se explica em parte pela profissão do marido, um diplomata que alcançou o posto de embaixador quando trabalhava no Irã. Na condição de embaixatriz, fotógrafa e pessoa extraordinária que é -- uma exímia construtora de redes humanas -- Soninha pode dar uma opinião abalizada sobre aquele país, muito oportuna, agora que o acordo sobre o uso de armas nucleares para fins pacíficos permeia a teia de comunicação mundial. O depoimento dela -- interessantíssimo -- está numa revista eletrônica (o link está lá embaixo).
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"O Irã que eu conheci"
por Sonia Bonzi
Depois de ter morado no Irã, minha maneira de ver o mundo mudou bastante. Não acredito em mais nada do que diz a grande mídia.
Quando soube que ia morar em Teerã senti um certo medo, mas aceitei o desafio. Comecei uma busca voraz por informações sobre o país, a cidade, a história, o povo. Depois de tudo que li, decidi que viveria em casa, reclusa, lendo, escrevendo, fazendo crochet, inventando moda...
Parti de Londres pronta para o sacrifício. Teria que conviver com os xiitas radicais, terroristas cruéis, apedrejadores de mulheres, exterminadores de homossexuais, homens-bomba, mulheres oprimidas, cobertas com véus...
Eu estava submetida às leis locais e me seria vedado mostrar cabelos, pernas e braços. Ficar em casa era o que mais me atraia. Vestir um chador para sair me parecia um pouco demais. A caminho de Teerã eu depositava o sucesso da minha estadia nos jardins da casa onde fui morar. Ter aquele espaço me bastaria.
Logo ao sair do aeroporto comecei a ter uma imagem diferente de tudo aquilo que eu tinha lido. Tudo tão bonito, belas estradas, muita luz, viadutos com mosaicos, jardins bem cuidados, gente vendendo flores nos sinais, um engarrafamento sem buzinas, pedestres poderosos cruzando entre os carros, rapaziada de cabelo espetado, mocinhos com camisetas apertadinhas, moças lindas, super produzidas e também muitas mulheres de chador. Parques cheios de gente. Muita criança. Muito pic nic.
Dizem que a primeira impressão é a que vale. Gostei da chegada. Não tive medo. Não vi tanques, cadafalsos, escoltas armadas... Gostei das caras, das montanhas, das casas, das árvores, dos muros, do alfabeto que me tornava analfabeta.
Logo no segundo dia eu já tinha entendido que minha leitura sobre o cotidianonão tinha nada de realidade. Eu não precisava usar chador. Podia sair vestida com uma calça comprida, um camisão de mangas compridas e um lenço na cabeça. Senti-me nos anos 70, quando eu não dispensava um lencinho.
Deixei o jardim de casa e fui conhecer Teerã..."
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Não deixem de ler o restante aqui
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Soninha é uma amiga de décadas. Até hoje me arrependo de não ter ido visitá-la e ao Fachini quando moravam em Teerã. Foram tantos os convites. Não fui de besta, Soninha, mas para a Tunísia a gente vai, pode esperar.

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