sexta-feira, 7 de maio de 2010

a última de Schopenhauer

Oi querido,
Ontem você me perguntou qualquer coisa sobre Schopenhauer. Ainda bem que não foi sobre o pensamento dele – ia me dar mais trabalho – mas sobre a criatura. Fui procurar a data (1788) e a cidade de nascimento (Dantzig), mas o que achei engraçado foi descobrir que o filósofo tem página no Facebook. Fiquei curiosa e fucei um pouco mais: não apenas ele, mas também Jesus Cristo, Madame Curie e Mickey Mouse estão no Facebook -- aliás, toda uma série de celebridades passadas, inclusive o homem de Neandertal.
Pois bem: Schopenhauer ingressou na Faculdade de Comércio aos 17 anos e chegou a trabalhar como aprendiz de comerciante em Dantzig (hoje, Gdansk, Polônia). Ficou livre do ofício quando o pai morreu deixando-lhe uma pequena fortuna e ele pode se dedicar a escrever e filosofar. O mundo perdeu um grande comerciante – basta ler o nome dele, facilmente trocadilhável por shopping hour. Eu sei que a palavra trocadilhável não está no dicionário, mas como me disse uma caixa num supermercado de Porto Seguro na semana passada “hoje em dia somos nós, os falantes, que fazemos o verbo.”
A princípio, ninguém estava muito interessado em ler o que Schopen escrevia. Talvez porque os temas de suas obras não encorajavam; afinal quem se anima a ler uma tese denominada "Sobre a Quádrupla Raiz do Princípio de Razão Suficiente" ou um livro com o título de “Parerga e Paralipomena”? Foi mais ou menos por aí que a mãe dele começou a fazer sucesso como novelista, passando a freqüentar os círculos mundanos que o filho ridicularizava e detestava. E olha que ela era amiga de Goethe! Aborrecida com as críticas domésticas, a mãe começou a declarar publicamente que a tese do filhoe não passava de um tratado de farmácia. Ele retrucava dizendo que o futuro dela como romancista era inglório e que o mundo só se lembraria dela por ser a mãe dele, Schopenhauer. Não vou me estender muito nesta disputa porque o dia das mães está chegando, né?
Diz o chavão que Schopenhauer era um pessimista. Acho até que não, viu? Era tão otimista que quando foi ser professor na Universidade de Berlim cismou de competir com Hegel – que está para a Filosofia como Karl Marx para o comunismo – escolhendo para sua disciplina o mesmo horário que o rival: só apareceram 4 alunos. Desistiu. Mais tarde foi vítima da curiosidade de umas velhinhas que eram locatárias na mesma pensão onde ele vivia. Parecem que eram mexeriqueiras ou morbidamente curiosas, já que tinham o insalubre hábito de espionar a chegada das amizades femininas que Schopenhauer recebia em seus aposentos. Certa noite ele se enfezou e atirou uma dessas espiãs escada abaixo. Foi processado e condenado a pagar 60 thalers anuais até a morte dela. Para azar dele, a mulher ainda demorou 20 anos para morrer. Foi por causa deste episódio que ele cunhou a frase “ A mulher é um animal de cabelos longos e idéias curtas.”
Mas olhe, meu filho, o que importa mesmo é a obra e não o homem. Arthur Schopenhauer foi um filósofo que influenciou grandes pensadores como Machado de Assis, Nietzsche, Freud, Wagner, Tolstói e Thomas Mann, entre outros. E ainda hoje é considerado um dos principais pensadores de toda a história alemã.

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